Sunday, June 3, 2012

Dia 14 - O Ocidente não é aqui?

O guia de viagem e mesmo algumas referências na internet destacavam que Solo, ou Surakarta, era talvez a a cidade menos "ocidentalizada" de toda ilha de Java, além do fato de que ela funciona como pólo cultural da ilha mais populosa da Indonésia.

Quando cheguei, tive uma certa dificuldade para conseguir sair da rodoviária e uma dificuldade maior ainda para encontrar um hotel nas congestionadas ruas que cortam a avenida principal. Como sempre, os preços anunciados na internet ou no guia estão bem abaixo e mesmo pedindo algum desconto a diferença continua grande.

A avenida principal é um tanto quanto diferente do que eu já tinha visto até então. Ela muito, mas muito larga e deve ter, sei lá, uma dúzia de faixas. Ela lembra um pouco a 9 de Julho após a São Gabriel, em direção à Marginal Pinheiros: bem arborizada e com canteiros não apenas separando as faixas opostas, mas também aquelas que correm para o mesmo lugar. Em uma das laterais há um trilho de trem que corre por toda a avenida, mas parece estar desativado, já que no tempo em que fiquei perambulando não ouvi e nem vi trem algum. Nesse mesmo lado, a calçada é enorme, algo como seis, sete metros de largura.

Apesar do movimento intenso na rua e nas calçadas, são poucas as lojas abertas, a grande maioria de eletroeletrônicos, e isso de certa forma causa uma estranha sensação ambígua de que a cidade está florescendo e abandonada ao mesmo tempo. É algo meio taciturno com o qual demorei um pouco a me acostumar.

A fome logo bateu e nada de encontrar os restaurantes de calçada com comida rápida e fácil. Há restaurantes, muitos chineses, mas eu não me sinto à vontade de entrar sozinho, pedir a comida, esperar e comer. É como se todos olhassem para você pensando "por que cargas d'água essa pessoa está sozinha aqui?". A chuva começou a cair, assim como a noite, e o movimento da cidade reduziu-se bastante e nada de encontrar um restaurante de rua. Achei um shopping gigantesco com incontáveis lojas de venda e manutenção de celulares, um McDonalds e um KFC às moscas, mas nada de restaurantes de rua. Não achei nem as lojinhas que ficam abertas 24 horas, tão comuns em Yogya.

Por fim, rendo-me a um restaurante movimentado e com um grande letreiro, o "Kusuma Sari". Ele é frequentado basicamente por famílias (pai, mãe, filhos e eventualmente outros parentes) que chegam de carro e se dividem entre os dois tipos de comida disponíveis no cardápio: ocidental e indo, esta última sendo na melhor das hipóteses, digna. A trilha sonora é composta de pop ocidental como No Doubt e Lady gaga, mas nada de música local.

Toda essa descrição para fazer uma contraposição ao fato de que Solo é a cidade menos ocidentalizada de Java. Em alguns pontos, certamente, mas em outros, como no caso da avenida larga, arborizada e com amplas calçadas, a faz se distanciar daquilo que temos como imagem das cidades do Sudeste Asiático, muito embora uma mera avenida passe muito longe de ser uma representação concreta de uma cultura. E bota longe nisso.

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