Saturday, January 31, 2009

Dia 142 - Resumo sobre a Índia

É uma pena que o lugar que era o sonho da minha vida e, portanto, provável destaque da viagem, se não se mostrou um pesadelo, chegou bem perto disso. Quando planejei a viagem, pretendia passar mais de três meses aqui. Com o decorrer da mesma, revi os meus planos e tirei algumas semanas do meu roteiro na Índia. Hoje vejo que poderia ter encurtado ainda mais essa viagem.

Eu sabia muito bem o que me esperava nesse país: falta de higiene, pobreza, trânsito, poluição sonora, dificuldades com comida e nas relações com as pessoas. A exceção do último item, todos os outros atingiram ou superaram em parte as minhas expectativas, muito embora nesse caso "superar" não tenha uma conotação muito positiva.

Ao contrário dos outros países, eu não consegui de maneira nenhuma me adaptar ao modus operandi do indiano. Não gosto da agressividade, do jeito meio animal e do jeito "Lei de Gérson" de ser da maioria deles. Em nenhum momento me senti em casa e em praticamente todos os momentos senti que alguém queria dar o golpe em mim.

Talvez pelo fato de eu ter ficado mal-acostumado no Laos e na Indonésia, ou então pelo fato de eu já estar viajando a mais de quatro meses, mas eu simplesmente não consegui engolir a cultura indiana. E com o passar dos dias e acumulação de experiências desagradáveis, isso tornou-se uma birra e agora nada (pessoas, música ou comida) nesse país me agrada.

Não me arrependo de ter vindo, afinal você nunca deve se arrepender dos sonhos que tem. Para amenizar o meu sentimento, a esmagadora maioria dos turistas que eu tive contato compartilham da mesma opinião. Além disso, cheguei à conclusão de que, para ter uma experiência bacana na Índia, você deve vir com um propósito específico como por exemplo um curso de yoga, música ou trabalho voluntário. A questão é que na Índia é mais interessante ficar em um canto só do que ser um turista.

Apesar dos relatos ranzinzas de Janeiro, ainda acho que vale a pena visitar a Índia, ainda que essa visita possa esperar. Todos os lugares de interesse estão rodeados pelas cidades, que estão estragadas pela indústria do turismo. Além disso, as características citadas anteriormente (falta de higiene, infra-estrutura, etc) me fazem pensar que pior do que está não fica. Portanto, uma visita para a Índia pode ser adiada sem qualquer problema.

E amanhã é dia de voltar pra Bangkok!

Thursday, January 29, 2009

Dia 141 - Délhi

Após todas as "gratificantes" experiências que tive na Índia, eu nada esperava de Délhi, capital e segunda maior cidade do país. A viagem noturna de trem fi bem tranquila e chegando na cidade eu tive uma pequena mostra do que me esperava. As sete e pouco da manhã, a despeito do frio e da neblina, dezenas de homens e crianças se alinhavam nos trilhos do trem, de cócoras, para fazer as necessidades do dia. Eu sei que isso não deveria me surpreender, mas eu jamais imaginaria ver uma cena dessas nas imediações da principal estação ferroviária da capital de um país, mesmo ele sendo a Índia. Para reforçar a minha surpresa, algumas das pessoas se limpavam com a àgua do esgoto que corria ao lado dos trilhos.

O trem parou em Délhi e o lugar que eu ficaria ficava em New Délhi que, pelas minhas contas, não deveria ficar mais do que três quilômetros de onde eu estava. Se eu estivesse no começo da viagem e, principalmente, em um lugar com calçadas nas quais eu posso andar, esses três quilômetros seriam brincadeira de criança para mim e agora eu estaria escrevendo sobre os 50 centavos que eu economizei. Como a situação não é essa, fui obrigado a usar um dos rickshaws que me abordaram. E o que eu ví no caminho para New Délhi continou me surpreendendo. A "rua" dos turistas é pior do que as estradas do Nordeste que que a televisão mostra todos os anos depois de um período de chuvas: não é asfaltada, é estreita e ainda tem umas elevações no centro, o que dificulta o movimento de veículos. Também não preciso mencionar que não há calçadas e que os pedestres têm de disputar espaço com esses mesmos veículos, a fauna local e o lixo.

Deixei minhas coisas no hotel e fui dar uma volta. Dez minutos foram suficientes para eu querer voltar, mas como eu ainda não me dei por vencido por aqui, continuei. Nas cinco horas que fiquei rodando eu não ví nada que lembre de longe que aqui é a capital de um país. Geralmente a capital costuma ser um pouco mais ajeitada do que as outras cidades e, no caso das áreas turísticas, o mesmo ocorre, geralmente para dar a ilusão ao turista de que o país todo é assim. Aqui não. Délhi é um catado de todas as outras cidades indianas que visitei. Por um lado é bem decepcionante, mas por outro, há uma certa coerência e não há a tentativa de passar uma falsa imagem para quem vem de fora.

Wednesday, January 28, 2009

Dia 140 - Passagem de trem

Nas cidades mais turísticas existe um guichê apenas para atender os turistas e os trens mais procurados costumam ter uma cota para turistas, geralmente 4 ou 6 assentos. Contando com isso e com experiências anteriores, fui na estação de trem de Johdpur para comprar a minha passagem para Délhi, de onde parto domingo rumo à Bangkok. Preenchi o formulário, fui no guichê, entreguei o passaporte e... recebi a excelente notícia de que o atendente não podia fazer essa operação. Apesar da minha explicação dw que já havia feito isso antes, ele me falou para procurar o supervisor do estação para tentar resolver o problema.

Com a tradicional "boa vontade e educação" local, fui informado pelo supervisor de que ele também não estava autorizado a fazer essa delicadíssima e importantíssima transação e que eu deveria procurar o GERENTE REGIONAL. Burocracia onde? Pra me ajudar, o escritório do dito cujo não ficava na estação e eu tive de me deslocar alguns quilômetros para achá-lo. Quando explico o meu caso, ouço a resposta que eu não queria ouvir, muito embora fosse a resposta esperada: "Olha, isso não é comigo; é com o pessoal da estação mesmo.". Ele ligou para o pessoal da estação, falou meia dúzia de frase e falou pra eu voltar lá.

Chegando na estação, a boa vontade e educação do supervisor e dos demais atendentes eram ainda mais visíveis e eu fui informado de que deveria escrever UMA CARTA DE PRÓPRIO PUNHO requisitando a cota para turistas estrangeiros. Inconformado com esse absurdo, eu escrevi a MELHOR e MAIOR carta que essas pessoas já viram, colocando todos os dados possíveis (incluindo data de nascimento, formação escolar e ausência de antecedentes criminais) e entreguei para eles. Muita conversa, muito corre-corre e alguns minutos depois uma passagem é jogada na minha mão com o meu assento escrito à caneta. Em algumas horas saberei se viajarei ou não...

Tuesday, January 27, 2009

Dia 139 - Contagem regressiva

Em cinco dias eu volto pra Tailândia! :)

Porque a viagem tem de terminar como começou!

Saturday, January 24, 2009

Dia 136 - Novos planos

Grandes chances de mudancas nos proximos dias...

Tuesday, January 20, 2009

Dia 131 - O último texto sobre a Índia

Nesses mais de quatro meses de viagem eu sempre procurei relatar as impressoões que eu tinha sobre os lugares que visitei e as pessoas que conheci sob uma perspectiva menos turística e mais pessoal, profunda. Funcionou muito bem em todos os países até eu chegar na Índia. Aqui, praticamente todo mundoi que me aborda tem algum interesse por trás, além de a abordagem ser na maioria das vezes bem agressiva. Já tinha aceitado o fato de que aqui ninguém me convidaria para festa familiar ou para beber cerveja com gelo e estava levando a situação da melhor maneira possível. Entretanto, hoje eu dei por encerradas as minhas esperanças com os indianos.

Indo para o terminal de ônibus, sou parado por um rapaz em uma motocicleta:

Indiano: Posso te perguntar uma coisa?
Eu: (sempre com sorriso no rosto) Claro!
Indiano: Por quê os estrangeiros são mal-educados conosco. Sempre quando os abordamos, eles continuam andando e não dão atenção.
Eu: Olha, é que na maioria das vezes vocês nos abordam pra pedir dinheiro/tentar vender algo/oferecer transporte e isso tira o sossego da nossa viagem. Como é a maioria que faz isso, alguns estrangeiros preferem evitar contato com os locais.
Indiano: Por quê vocês desrespeitam a gente?
Eu: Nós não desrespeitamos; só preferimos evitar situações nas quais seremos prejudicados.
Indiano: Se você evita contato com os indianos, o que veio fazer aqui então?
Eu: Minha intenção era conversar com o maior número de pessoas possível, mas como quase todos querem me enganar, decidi apenas tirar fotos.
Indiano: Isso é um desrespeito!! Você é um racista $#$@*@$!! Você acha que vai sair vivo daqui pensando desse jeito?
Eu: Camarada, você está um pouco alterado e generalizando tudo o que eu falei. Não falei que todos os indianos são assim. Enfim, continuarei a andar, ok?
Indiano: Seu #@*%#, volta aqui!!

Segundos depois:

Indiano: Por quê você foi embora? Por quê me desrespeitou?
Eu: Você está gritando e falando vários palavrões e eu que sou o mal-educado? Por quê ao invés de ter esse tipo de atitude você não procurou provar que a minha imagem sobre a Índia está incorreta. Pelo contrário, você só fez provar que ela está certa.
Indiano: (desliga a moto e levanta): Eu vou bater em você!
Eu: (sorri, ironicamente) Pode vir! Se isso vai te fazer melhor, recuperar o seu orgulho e provar que os indianos sabem resolver impasses, pode vir!
Indiano: #@%$@!! (tal qual um moleque do primário quando é desafiado, desiste e vai embora)

Aliás, esse esquema de abordar de moto ficou manjado rapidinho. Umas dez vezes isso aconteceu entre ontem e hoje, sempre com a pessoa perguntando sobre o comportamento dos turistas ou dizendo que vai fazer uma viagem para o meu país (teve gente dizendo que ia pro Suriname!) e depois convidando para um "café" amigável.

Como o objetivo do blog era escrever sobre as relações sociais durante a viagem e eu desisti das mesmas por causa desse acontecimento (e muitos outros), a partir de hoje não escreverei mais por aqui. As pessoas me decepcionaram muito, mas as paisagens fazem valer a penna esse pequeno incômodo. Quando eu voltar eu termino de contar as peripécias pela Índia!

Monday, January 19, 2009

Dia 130 - 130 dias sem feijão

Auto-explicativo.
:(

Dia 129 - Rajastão

Hoje eu começo a perna final da viagem e o destino será a província do Rajastão, provavelmente uma das mais procuradas da Índia. Isso implica em muito mais gente querendo me vender coisas, enganar e ganhar comissão. Isso implica também que daqui sairão centenas e centenas de fotos daquelas de estampar a capa da National Geographic.
E a minha língua nova continua ganhando adeptos. Hoje eu passei pelo menos dez minutos conversando com um motorista de ciclorickshaw. Além disso, ela também está evoluindo e os fonemas estão ficando mais complexos. E oficialmente já existem duas palavras: shira = sim e niró = não.

Dia 128 - Taj Mahal

Apesar da neblina, do frio e do preço absurdo (15 dólares) para entrar, valeu cada centavo. Tudo o que vocês ouviram falar ou viram pela televisão não é nem 10% do que o Taj é.

Nota lamentável para um russo metido a malandrão que pegou uma pedra e resolveu impressionar a mulher escrevendo o nome dos dois na parede de uma das mesquitas adjacentes ao Taj. Como ninguém falou nada, coube a mim fazer o trabalho sujo, chamar atenção, fazer o sujeito passar vergonha e ouvir palavras não muito bonitas em russo.

Friday, January 16, 2009

Dia 127 - Frio e banho

Se vocês clicarem no link roteiro, verão que eu estou cobrindo a Índia do "Oiapoque ao Chuí". Isso significa que a viagem começou com um calor proibitivo e terminará em um frio não menos intenso. Ontem em Gwalior e hoje em Agra eu tive uma pequena amostra desse frio e principalmente das condições que eu tenho para enfrentá-lo.

Pra ser direto, não há àgua quente nos hoteis mais básicos e a opção que eles dão pra você é um balde com àgua quente. Eu não sei o que é pior: optar pelo banho gelado e sentir frio de maneira mais constante ou pedir o balde com canequinha e sentir as duas sensações (frio e calor) ao mesmo tempo. Ontem eu fui na raça mesmo até porque dá pra tomar banho gelado com 10 ou 12 graus. Além disso, depois de uns minutos a sensação é boa, já que o corpo passa a absorver calor do ambiente e não o inverso!

Só que como o frio tende a ficar mais intenso, uma vez que eu vou pro deserto e depois para perto do Himalaia (se der tempo), ou eu fico em lugares mais luxuosos ou vai na canequinha mesmo!
E também não preciso dizer que agora eu chamo ainda mais atenção por ser a única pessoa nas ruas a andar de bermuda e camiseta! :)

Thursday, January 15, 2009

Dia 126 - Criando línguas novas

Viajar por cinco meses sem enlouquecer não é tarefa fácil. Seja pela solidão ou ou pelo stress diário que toda viagem proporciona, estamos sempre tentados a jogar tudo pro alto. Para tanto, temos que procurar maneiras alternativas de se divertir e atenuar os fatores citados acima. E uma saída que vem se provando muito eficaz é a criação e utilização de uma língua diferente do inglês e da local.

Vez ou outra alguém me aborda falando em um idioma que só meia dúzia entende e a comunicação não flui. Em outras vezes, eu tento algo em inglês, mas a conversa também não desenvolve muito. A solução para esse impasse linguístico é a adoção de uma língua que ambas as partes entendam. Com esse desafio em mãos passei a desenvolver uma língua de fácil assimilação por qualquer pessoa que venha a ter contato com ela. Com fácil assimililação, a comunicação é eficaz e todos ficam felizes.

A estrutura é bem simples:

i) toda sílaba começa com D, B e G;
ii) depois de uma dessas letras, vem um R ou um L, de acordo com sua preferência;
iii) por fim, finalize com uma vogal, em geral I, U ou E;
iv) intercambie essas sílabas o maior números de vezes possível;
iv) fale com sotaque italiano (gesticulando, inclusive) para dar um tom mais "dramático".

E fica assim:

Drigrubla grablublé

É tão simples e de fácil assimilaçào que um garoto de seis anos que eu encontrei na rua já conversava comigo nesse idioma depois de poucos segundos. E depois dizem que ficar sozinho muito tempo deixa a gente louco... :)

Dia 125 - Baratas

Hoje quando estava esperando o meu trem me dei conta de que em vinte um dias de Índia eu não ví uma barata sequer. E estamos falando de um país mundialmente conhecido pelos seus níveis sanitários não muito satisfatórios. E antes que alguém venha dizer algo, eu me "esforcei bastante" bastante para que esse encontro acontecesse. Nessas três semanas eu fui para todos os buracos e focos de pobreza possíveis e nada além de cachorros magricelas, vacas e cabras, muitas cabras. Eu sinceramente não consigo achar nenhuma explicação convincente, visto que lixo, orgânico ou não. é o que não falta nas ruas indianas. E onde tem lixo, lá estão aquelas que irão nos enterrar no futuro. E ratos, que também ainda não vi.

Como a Índia faz questão de me desmentir logo em seguida, o trem que eu peguei para Gwalior, se não estava infestado, tinha uma quantidade bem razoável de baratas, muito embora elas eram pequeninas, o que faz com que não tenhamos tanto asco delas assim. A viagem, que começou as duas da tarde e terminou na quinta pela manhã esteve longe de ser confortável, não pelas baratas e sim pela cama do trem que não me comportava em comprimento (compreensível), nem em largura (não compreensível).

Tuesday, January 13, 2009

Dia 124 - Taj Mahal dos pobres

Uma viagem para a Índia sem ver o Taj Mahal NUNCA será completa. A história do Taj é bem famosa, muito embora muitos não saibam o desfecho dela. Depois de construí-lo, o imperador foi posto em uma prisão (ironicamente um forte que ele construíra anteriormente) por seu filho, com a alegação de que a construção do Taj havia consumido as finanças do império.
A outra ironia da história é que o filho construiu uma réplica em menor escala (e beleza) em Aurangabad, algumas centenas de quilômetros ao sul de Agra. E hoje eu fui vê-lo, já em uma preparação para o Taj nesse final de semana. Além do nome original que me falha agora, ele também é conhecido como Mini-Taj e Poor Man's Taj, o que não faz jus a beleza e a riqueza do mausoléu. Se ele fosse tratado com um pouco mais de carinho (reformas e paisagismo), tenho certeza que ele estaria no roteiro de todo viajante na Índia.
i) além do mexicano, eu conheci um grupo de brasileiros que moram em Mumbai. Não sei se é impressão minha, mas eu senti dificuldade em falar português, além de achar que a minha voz estava soando muito diferente. Enfim, será uma questão de tempo para o cérebro se reacostumar com a língua mãe! :)

Dia 123 - Indianos II

Eu sabia que depois daquele texto falando sobre a minha decepção com os locais, tudo ia mudar. É sempre assim!
Depois de passar o dia vendo as cavernas budistas, hinduistas e jainistas em Ellora e conhecer um mexicano no meio do caminho, conhecemos um grupo de estudantes de BIOTECNOLOGIA de uma Universidade local. Todos muito atenciosos, curiosos e prestativos, tanto que foi graças a eles que o camarada mexicano conseguiu um ônibus mais barato para Mumbai.
Comemos em um restaurante bem duvidoso (nunca comeria sozinho), mas até o presente momento nada aconteceu comigo e eles se revelaram ser bem diferentes do que eu acabei me acostumando nessas semanas. Talvez seja assim quando você os conhece além do tradicional "Hey, you!".
Fico feliz que o meu julgamento inicial não se aplica a todos! :)

Dia 122 - Viajar à noite

Obrigado, Blogger, por apagar mais um texto enorme.

Saturday, January 10, 2009

Dia 121 - Indianos

Até o momento, a Índia é extamente aquilo que eu imaginava, tinha lido ou ouvido falar. Nessas quase três semanas eu já falei sobre pobreza, poluição, barulho e desorganização, mas nada que me incomodasse muito (à exceção do barulho). Entretanto, a única coisa que realmente é um choque para mim é aquilo que eu mais prezo na viagem; mais do que as paisagens: é o povo.

É um choque porque nos três meses e meio de viagem pelo sudeste asiático eu era bem recebido em todos os lugares pelos quais eu passava, as pessoas sempre andavam com um sorriso no rosto, fui convidado para festas familiares e faculdades e nada disso vem ocorrendo por aqui. Não que eu esperava isso, muito pelo contrário. A questão é que mesmo sendo o mais pessimista possível quanto o clima por aqui eu ainda me decepcionei com o que encontrei.

As pessoas te medem de cima a baixo, fazem piada, mendigos te estapeiam, pessoas passam na tua frente em filas, etc. Tudo isso é tolerável e o que me incomoda de fato é que as pessoas não sorriem; pelo contrário, sempre que eu tento algum contato eles respondem de maneira séria e até severa algumas vezes. As vezes parece que o indiano ou não gosta de turistas ou não sabe como atendê-los. Não que eu queira um tratamento real, mas acho que não custa nada mostrar um pouco de boa vontade.

Obviamente que isso é uma opinião superficial, visto que passei por apenas quatro cidades até agora. Pode ser que em outros lugares seja diferente.

Face ao exposto, decidi que a viagem na India terá um foco mais "turístico" e eu me concentrarei apenas em tirar fotos de lugares interessantes e esquecer das pessoas, o que vai contra a minha proposta de viagem, mas e a saída que eu encontrei para aproveitar esse país.

Friday, January 9, 2009

Dia 120 - Quatro meses

Quatro meses. Quem diria, hein! E ainda tenho pouco mais de um mês por aqui.

Dia 119 - Torre de Babel

Apesar da aparente homogeneidade no que tange a sua população, a Índia mais parece uma Torre de Babel. Muito embora o hinduísmo seja a principal religião, Islamismo, Jainismo, Cristianismo e Budismo têm muitos adeptos. São muitas as línguas e alfabetos diferentes, ainda que boa parte da população entenda bem o inglês. Desde que cheguei aqui, já são duas línguas e alfabetos novos sem contar o hindi, língua que terei contato a partir da semana que vem e que é a mais falada no país.

Aqui em Hyderabad, cidade com expressiva população muçulmana, há letreiros escritos em QUATRO idiomas diferentes: a local (que eu não sei), hindi, inglês e àrabe. Aliás, toda essa salada, aliada ao fato de que a maioria dos indianos sabe inglês, faz com que eu não me esforce para aprender o idioma local. E também pelo fato de que o idioma local, juntamente com o alfabeto, muda a cada semana. Ah, e também pelo fato de que o povo indiano não é lá um povo que a gente possa chamar de amistoso, mas isso é assunto pra outra hora!

Falando em povo amistoso, não tenho tido dó dos motoristas de rickshaw por aqui:

Eu: Quanto fica até Pirituba (lugar fictício)?
Indiano: 70 dinheiros.
Eu: Pago 30.
Indiano: Ok, 50 dinheiros.
Eu: 30.
Indiano: 40 e não menos do que isso.
Eu: 30.
Indiano: (faz cara de ódio) Ok...

Wednesday, January 7, 2009

Dia 118 - Hyderabad

Minha jornada rumo à Hyderabad começou ontem pela manhã, ainda em Puducherry. Primeiro, três horas e meia de ônibus até Chennai; depois, mais uma hora de ônibus local do Terminal até a estação de trem. Aliás, fico orgulhoso quando consigo me virar nas cidades usando o transporte público de massa, muito mais barato do que os rickshaws da vida. Depois, o principal: a primeira viagem de trem na Índia. Há diversas categorias nos trens, desde as mais simples acomodações até as mais suntuosas e eu não perderei tempo aqui explicando como é cada uma delas. A que eu fiquei é a segunda melhor e eu dormi (quase) todo o percurso.

Chegando em Hyderabad no início da manhã, eu percebi que o melhor a fazer é jogar o guia de viagem fora. Os lugares que ele recomenda pra ficar nunca estão com os endereços certos, muito menos os preços, além da escala o mapa nunca ser satisfatória. Como de praxe, acabe ficando em um lugar aleatório depois de ouvir muitos "não temos vagas" em duas horas de procura. Hyderabad é uma cidade mais islâmica do que as cidades que visitei até agora e isso pode ser observado nas diversas mesquitas espalhadas pela cidade. Na verdade, ela tem uma história bem interessante, mas isso é dever de casa de voces, ok?

Aliás, essa história interessante é refletida na belíssima arquitetura da cidade. Pra todo lugar que você olha há uma mesquita, hospital ou prédio do governo cheios de detalhes e que fazem você parar no meio da rua pra ficar olhando. Claro que isso não pode durar mais de poucos segundos, do contrário você será atropelado por todos os tipos de veículos possíveis!

i) ao que tudo indica, as pessoas de Hyderabad também conhecem Kaoma;
ii) um pedinte me deu um tapão nas costas depois que eu recusei dar dinheiro pra ele.

Tuesday, January 6, 2009

Dia 117 - Trem

Hoje, após duas semanas de Índia, andarei de trem pela primeira vez!

Dia 116 - Desalojado

Como já contei aqui, criei a rotina perfeita em Puducherry: todo dia levanto, como alguma coisa e vou pra praia; fico um tempo, almoço, tiro uma soneca e volto pra praia. A praia em sí quase não existe, já que o mar quebra em um amontoado de pedras. No meio desse amontoado há uma pedra perfeita, que não apenas é confortável (estamos falando de pedras, lembrem-se disso), como também tem uma das melhores vistas da praia.

Estava eu no meio da minha rotina de não fazer nada quando avisto um ônibus no cais. Minutos depois eu vejo dezenas de pessoas dançando no cais. Minutos depois essas mesmas pessoas saem do cais e vem na minha direção. Minutos depois eu entendo que estão gravando um clipe quando o diretor me expulsa da minha pedra para dar lugar aos dançarinos. A MINHA PEDRA. A pedra com a melhor visão da praia. Resignado, eu procuro e acho outra pedra, nada confortável e com a visão dos dançarinos.

Minutos depois eu sou expulso dela também, agora por um guarda muito bem armado com seu porrete. Procuro outro lugar. Sou expulso dele também. Tento gravar alguma coisa. Sou impedido. Instantaneamente passo a ter um ódio mortal pelo(s) artista(s)em questão.

Instalei-me em outro lugar e fiquei observando, na esperança de que em algum momento alguém ia me chamar pra fazer uma ponta. Não pra dançar, óbvio, mas como eu era o único estrangeiro no local, achava que poderia servir para alguma coisa. Esperei em vão. Quer dizer, eu ainda consegui uns vídeos EXTREMAMENTE CONFIDENCIAIS desse videoclipe, mas isso não compensa o fato de eu ter sido desalojado de minha pedra.

Dia 115 - Pobreza

Se tem uma coisa que não é exagerada nas imagens que vemos da Índia é a precária condição na qual se encontram muitos de seus habitantes. Pra todo lugar que você olha, há crianças, jovens, idosos e famílias inteiras ao léu. No meu primeiro dia em Trichy, como se fosse um cartão de visitas, uma criança de não mais de sete anos praticamente se agarrou à minha camiseta gritando "money!"money!".

Não que isso ainda não havia acontecido na viagem, mas a quantidade e especialmente a agressividade das pessoas é que me surpreenderam. Elas gritam pra chamar a tua atenção e se você não olha, elas praguejam qualquer coisa em tamil. Outras, se limitam a passar uma das mãos na barriga e colocar a outra na boca.

O ponto é que é tanta gente, mas tanta gente, e a maioria não tem cara nenhuma de coitadinho e parece que escolheu esse caminho por ser o mais fácil, que eu não consigo sentir dó (da maioria). Primeiro que eu não ajudo os pedintes do meu país, quanto mais os dos outros; segundo que se eu der pra todos, não sobrará nada pra mim (sem exageros); e terceiro que só pelo fato de eu estar na Índia gastando o meu dinheiro eu indiretamente estou (estaria) ajudando essas pessoas.

Uma vez, um cara BEM MELHOR VESTIDO do que eu veio pedir dinheiro. Não contente com o meu "não", ele ficou me seguindo e pedindo de novo. Enfim, eu só ajudo se tiver comida comigo, do contrário, nada de dinheiro.

Saturday, January 3, 2009

Dia 114 - Ano Novo II

Tal qual acontece no Brasil, o ano está começando de forma bem lenta para mim. Como eu só consegui comprar a passagem de trem para Hyderabad para o dia 06 e não há nada que me chame atenção em alguma cidade no meio do caminho, optei por permanecer em Puducherry. Claro que o fato de a cidade ficar no litoral pesou bastante nessa decisão. Com isso, a minha rotina ficou um bocado simplificada: comer, ir pra praia e dormir. Sem me preocupar com ônibus, lugar pra ficar ou comer.

Falando em comida, dia dessas eu presenciei uma cena pitoresca em um restaurante. Na hora do almoço o prato que todos os indianos comem é o thali, que nada mais é do que arroz servido com três misturas e alguns molhos em uma folha de bananeira (ou prato mesmo). Não sou muito (na verdade, nada) fâ de comer com as mãos, mas acho desrespeito edir colher e garfo quando TODOS no recinto estão comendo com as mãos. E ra ser sincero, as mãos nesse caso são o melhor instrumento para se comer, já que você tem que misturar o arroz com os molhos.

Estou eu entretido com a minha mão direita (a mão esquerda não é usada por motivos óbvios) misturando e brincando com o arroz quando olho para o meu lado e vejo um casal estrangeiro tendo um baita trabalho para comer com COLHER. Um baita trabalho mesmo, já que eles não estava conseguindo misturar o arroz e os molhos de maneira apropriada e demoravam bastante pra comer. Entretanto, apesar de se esforçarem para chamar atenção, eu era o único que os estava observando. Provavelmente os indianos já estão acostumados com esse tipo de turista.

Ainda sobre comida, eu percebi que boa arte das indianas dessa região estão acima do peso, apesar da dieta baseada em arroz (ok, é um motivo) e vegetais (ok, não é um motivo).

Dia 113 - Praia

Resolvi tirar férias dentro das férias e ficarei mais uns bons dias por aqui. :)

Thursday, January 1, 2009

Dia 112 - Constatacoes assustadoras

Primeiramente peco desculpas pela enesima vez por nao escrever com a acentuacao apropriada.

Com a chegada de mais um ano, mais especificamente o de 2009, eu cheguei a duas conclusoes assustadoras. Ta, elas nao sao assustadoras do tipo que voce fica sem comer nem dormir, mas mesmo assim ha um certo grau de preocupacao em relacao a elas.

A primeira delas e que nos entramos, vejam bem, no ULTIMO ano da primeira decada do seculo XXI. Ate ai nenhuma novidade, mas a questao e que todo ano que comeca eu sempre penso que a decada esta no comeco. Parece que foi ontem que teve todo aquele aue em cima do "bug do milenio". E ja sao quase dez anos.

A outra, essa sim bem mais importante, e que, ao adentrar o dia primeiro de janeiro de 2009 significa entrar no penultimo mes de viagem. Fevereiro esta logo ali e o retorno nunca pareceu tao real.

Voltando a India, quase nada de fogos por aqui ontem. Alias, se eu nao estivesse na praia eu nao saberia se era virada do ano ou nao. A cidade nao parou em nenhum momento e antes, durante e depois da virada o movimento nas ruas (e as buzinas) era o mesmo. E hoje nao foi diferente; nada fechado, todos na rua e o barulho ensurdecedor (na verdade mais irritante do que ensurdecedor) de sempre.

Em relacao ao transporte, comprei uma passagem de trem para Hyderabad na proxima terca feira. Ficarei por aqui mais uns dois dias e depois irei para Chennai, cidade da qual parte o meu trem.