Friday, March 18, 2011

Dia 13 - Pirâmide

Nunca achei que a primeira pirâmide que eu veria ao vivo seria no lugar mais improvável. Sempre achei que seria no Egito ou no México, mas não, quis o destino que essa honra coubesse à Indonésia. Tempos atrás eu assisti um programa sobre pirâmides do mundo, apresentado por um cara esquisito que sempre vestia a mesma calça caqui e camisa azul não importando onde ele estivesse. Enfim, depois de passar pelos lugares clichês, ele mostrou uma pirâmide na China e uma na Indonésia. Ele não falou o nome e nem onde ficava, mas nada que uma busca "indonésia pirâmide" no Google não resolvesse. Ela fica perto de onde estou e é o motivo pelo qual vim para essa cidade (só descobri o vulcão posteriormente).

Em um momento de alucinação eu achei que conseguiria chegar até ela a pé facilmente. Bastava andar alguns quilômetros em uma estrada, virar à direita em outra e subir mais alguns quilômetros. Quanta ingenuidade. A estrada é íngreme e sinuosa, além de não ter espaço para andar. Pergunto a direção, me dizem que é muito, muito, muito longe e que uma pessoa sã pegaria um ônibus até um povoado e depois uma moto até o templo. E foi isso que fiz. Realmente não dava para ir a pé. A distância era muito maior do que eu previa e o terreno, muito acidentado.

A pirâmide lembra vagamente as pirâmides do México, como se fosse só um tronco, sem a parte pontuda de cima. Obviamente me falta o léxico necessário para descrevê-la de um jeito mais técnico. Ela é pequena, mas o fato de estar ao pé do vulcão, observando os vilarejos lá embaixo a torna mais especial do que se supõe. Olhei, subi, tirei fotos, mas o grande barato mesmo é sentar em um dos bancos e olhar as casa, pequeninas no pé do vale, bem como as inúmeras plantações de coisas que eu não conseguia distinguir à tanta distância. Cheguei à conclusão de que deveria ser ainda melhor visitar o lugar no meio da manhã, pouco antes do almoço, quando certamente as nuvens e a cerração envolvem e dão um tom bem misterioso a esse cenário.

Ainda disposto a tentar fazer o caminho de volta, torno a descer o morro lentamente. Era sexta-feira, por volta da hora do almoço, que é quando tem a reza em massa e se vê poucas pessoas na rua nesse horário. Bastaram duas ou três bifurcações que me deixaram em dúvida sobre qual caminho pegar para eu parar a primeira moto que passou e pedir carona até o vilarejo mais perto.

Thursday, March 17, 2011

Dia 12 - Errando o caminho e se perdendo

Para chegar ao topo do Lawu em tempo de ver o sol nascer é necessário começar a escalada por volta das 23h. O início da subida fica em um povoado distante uns 7 quilômetros de onde estou e pode ser percorrido por minivan ou moto. Antes de ir, tirei uma soneca esperta de duas horas, já que ia ficar a noite toda sem dormir. Saí do hotel as 21h30, desci até o ponto onde as minivans ficam esperando e...nada de minivans. Depois de uns minutos esperando, um cara me oferece para me levar de moto, mas é irredutível quanto ao preço cobrado. Depois de quase perder as esperanças de ir neste dia, uma minivan aparece, negociamos um preço razoável para as duas partes e ela me leva até a entrada do Lawu.

Chegamos lá por volta das 23h e não havia ninguém na entrada, onde eu supostamente deveria me registrar e pagar uma quantia simbólica. Começa a subida. A primeira parte da subida é bem tranquila: o caminho é pavimentado com pedras (que depois se tornariam uma tortura), passa por muitas plantações e por ser em terreno aberto, tem a iluminação natural das estrelas e principalmente da Lua. Dava pra ver alguns planetas claramente também, mas como sou péssimo pra esse tipo de localização, só identifiquei Vênus, partindo do princípio de que eu estava correto.

Depois dessa parte tranquila, as plantações cedem lugar à mata cerrada, o caminho fica bem inclinado e a ascensão começa a ficar divertida. O caminho continua de pedras, mas agora com degraus, muitos degraus, infinitos degraus. A despeito disso eu avanço com relativa facilidade e havia a probabilidade de chegar no cume bem antes do esperado, o que não seria bom por causa dos ventos gelados que rondam o lugar. Quando eram pouco mais de 3h (quatro horas de subida) eu chego num lugar que aparentemente estava muito próximo do cume, tanto que havia uma pequena placa escrita Puncak (cume) e apontando em uma direção. Aí, amigos, é que a diversão realmente começa.

Estava muito escuro, a lanterna não ajudava a ver muito além de 3 ou 4 metros e eu segui na direção da placa. O caminho largo e de pedras grandes logo deu lugar a uma trilha quase imperceptível de pequenas pedras. Imaginei que o topo estava próximo. A trilha se tornou de fato imperceptível alguns metros depois, quando cheguei em um pequeno descampado e não havia indicação do caminho a ser seguido. Identifiquei o que poderia ser uma trilha e fui. Andei, andei, peguei caminhos e cheguei em um enorme descampado sem nenhuma indicação de caminho. Marquei, ingenuamente, uma árvore e fui em frente. Depois de uns 50 metros cheguei finalmente à conclusão de que aquele definitivamente não era o caminho correto. Apontei a lanterna para trás em busca da tal árvore marcada e...logicamente não vi nada.

Voltei para a parte das árvores, tentei lembrar dos caminhos seguidos anteriormente, andei bastante e me perdi mais ainda. Subi, desci, fui, voltei, apontei a lanterna em todas as direções e nada. A frustração era enorme. Depois de mais de uma hora andando a esmo, resolvi que era hora de parar, achar algum lugar razoavelmente protegido dos ventos e esperar o sol nascer para tentar achar o caminho de volta. Eram pouco mais de 4h20. Comi um pouco para elevar o moral, gravei uns vídeos engraçados e comecei a gritar coisas engraçadas pois estava em um lugar com bastante eco. Estava perdido, mas ainda estava me divertindo.

Ao longe o sol começa a nascer. Levanto, dou uma volta e começo a identificar o terreno. Passei a considerar a possibilidade de ficar alí mais de um dia e localizei um fonte de água, além de plantas com pequenos frutos. Tudo isso sem desespero, naturalmente. Sério mesmo. Quando já é possível enxergar bem, levanto e começo a andar. Tento seguir um caminho, ando, localizo uma trilha que tinha pego antes de me perder, fico feliz e acho que estou voltando ao caminho certo e...voltei para o mesmo ponto de onde parti. Pelo menos eu já sabia dois caminhos. Não muito distante de mim, tinha uma grande elevação que eu supus ser o cume, mas que não havia um caminho determinado para chegar. Na verdade, até havia, mas era extremamente íngreme, não indicado para pessoas sem experiência em escaladas, que é o meu caso. Assumi que essa rota era usada pelo pessoal roots e arrisquei a sorte.

É o tipo de coisa que a gente só tem noção depois que faz. O caminho era muito íngreme e era muito fácil escorregar e se machucar muito,talvez até morrer. A duras penas consegui subir e quando cheguei no cume percebi que de fato não se tratava do cume oficial, já que era tão pequeno que eu mal cabia nele. Entretanto, a vista era impressionante dalí. Depois de alguns minutos tentando entender a frustração de novamente não achar o caminho correto, eu comecei a descer e foi aí que eu percebí o quão complicado era aquele lugar. Subir tinha sido muito fácil perto do que eu tive que fazer para descer. Descí sem problemas.

Voltei e comecei a procurar novos caminhos. Percebi que em uma árvore havia um plástico amarrando, o que talvez denotasse alguma direção a ser seguida. Minhas buscas partiriam dalí. Achei outra árvore com um plástico amarrado e comecei a gostar de toda essa busca. Infelizmente essa foi a última pista. Passei a olhar para o chão buscando evidências de atividade humana (lixo) e passei a segui-las. Quanto mais lixo, mais perto do caminho correto, eu achava. E eu estava certo. Alguns minutos depois eu voltei para o lugar da placa indicando o cume. E foi aí que eu percebi que a placa não estava indicando a direção que eu havia seguido (em frente), e sim à direita. Em minha defesa a placa estava meio torta, como se alguém tivesse feito de propósito para ajustar a direção correta. E se a minha lanterna fosse de fato útil e iluminasse bem, eu enxergaria a continuação do caminho de pedras.

Depois de uns quinze minutos nessa trilha me encontro com um grupo de locais que estavam voltando do cume. Pergunto quanto tempo ainda falta e eles me dizem: uma hora. Mais uma hora de caminhada. Felizmente eu estou numa forma física digna e consegui fazer o percurso em meia hora. Talvez tenha sido a vontade de acabar logo com tudo ou a adrenalina mesmo. Cheguei e não havia ninguém lá. Palavrões, muitos deles. Referência ao "é tetraaaaaa....é tetraaaa......." do Galvão em 1994. Muita comemoração. Cheguei antes das nuvens e da neblina tomarem conta da paisagem e pude ver muitos vulcões bem distantes daqui. Depois de um café da manhã dos campeões (bolacha e suco de laranja), me preparo para a pior parte de toda a subida: a descida.

Por mais que você desça muito mais rápido, sempre fica a impressão de que você não subiu tudo aquilo. E a descida foi dolorida para os joelhos. O pé nunca pisava reto nas pedras, desequilibrando sempre e algumas delas estavam fora do lugar. Lembram daquela prova "Pedra Maldita" das Olimpíadas do Faustão? Então, imaginem descer 1.500 metros de escada com algumas pedras fora do lugar. Quase a mesma coisa, exceto que se eu cair não será a água que me amortecerá e sim as pedras. Depois de três horas de sofrimento eu finalmente consegui chegar à estrada. No caminho, encontrei com alguns grupos de indonésios que estavam começando a escalada. Se eu ainda estivesse perdido e ficasse me esgoleando certamente alguém iria ouvir, já que eu não estava muito longe do caminho correto. Ainda faltava voltar para a cidade. Depois de muito esperar, consegui uma carona e cheguei em casa por volta de 12h, 13 horas depois de começar a subida.

E neste momento chove muito, bastante, absurdamente. Se não tivesse sido ontem, não seria hoje que eu escalaria o Lawu.

Entre mortos e feridos, um sobrevivente com apenas um arranhão na perna, sem fotos espetaculares do nascer do sol, mas com uma história bacana para contar.

Wednesday, March 16, 2011

Dia 11 - Gunung Lawu

Hoje durante a noite escalarei o Gunung Lawu, maior vulcão dessa minha estada na Indonésia (a não ser que eu mude de ideia) com 3.265 metros. Espero contar com o bom senso do tempo e conseguir suportar o frio sem as roupas adequadas.

Dia 10 - 41C

Pra não ficar o dia todo viajando, resolvi dividir a minha viagem entre Wonosobo e Tawangmangu em duas partes, com uma rápida parada em Yogya. Chegando lá, a diferença de temperatura era gritante e ainda que eu não acredite, o termômetro de um hotel na rua estava marcando 41C as duas da tarde. De fato estava um calor senegalês, mas não sei se a ponto de passar dos 40 graus.

Já que eu não vou para a ilha de Komodo nessa viagem (e por muito tempo), fui no Zoológico da cidade para ver de perto os famosos dragões de Komodo. O Zoo de Yogya é muito interessante porque você fica muito perto dos animais, mas muito perto mesmo. Na área dos répteis eu poderia pegar um filhote de jacaré e colocar na mochila pra levar pra casa se eu quisesse, de tão perto que fiquei deles. Quanto aos dragões, os do Zoo não eram tão grandes e ameaçadores e não lembro de te-los visto se movimentar em algum momento. Mas valeu a pena de qualquer maneira.

Voltando ao tópico "temperatura", apesar de durante o dia ela ser insuportável, à noite ela cai consideravelmente, não sendo necessário dormir com o ventilador ligado.

Tuesday, March 15, 2011

Dia 9 - Neblina, neblina e mais neblina

Apesar de saber que há dois vulcões rodeando Wonosobo eu ainda não consegui vê-los dado o estado intermitente de garoa/neblina/chuva da região. E em Dieng sabia que seria bem pior. Meu plano era ir para lá bem cedo, mas acordei com a chuva, tomei café da manhã com ela e fiquei esperando mais um bocado de tempo até ela passar. A viagem até Dieng dura cerca de uma hora, ascende 1.000 metros e passa por montanhas plantações de arroz e verduras, mas pouco ví de tudo isso.

Bem trajado (bermuda e camiseta) desço da minivan e...não consigo enxergar mais do que cinco metros. E com a garoa molhando os óculos, essa distância cai consideravelmente. Talvez a ideia de ter ido mesmo com o tempo ruim não tenha sido tão boa assim, mas já que estava lá tinha de aproveitar de alguma forma. A neblida significava duas coisas: eu não via nada e nem as motos e carros que passavam pela rua, o que de certa forma não era reconfortante em termos de segurança.

A primeira parada foi em um lago (de enxofre, talvez) supostamente azul-turquesa, mas no começo eu mal via o lago em sí. A neblina ia e voltava; mais voltava do que ia. Nos poucos momentos em que ela se ia eu tentava tirar fotos e me localizar. Uma foto aqui, outra alí e uma rápida conversa com algumas turistas de Yogya. Tenho tido muita dificuldade em guardar os nomes das pessoas, seja porque eles são difíceis, seja porque meu cérebro sabe que nunca mais vou vê-las, então se encarrega de apagar a informação assim que ela é recebida. Só que isso não acontece com as pessoas aqui. Depois desse lago fiquei um tempo embaixo de uma cobertura esperando a chuva passar e depois fui para uma cratera com poças d'água borbulhantes. Quase chegando lá, sem enxergar nada eu ouço chamarem o meu nome. Primeiro pensei que o enxofre do lugar devia estar me afetando, mas tornam a chamar meu nome. Eram as turistas de Yogya que, ao contrário de mim, não tem dificuldade em guardar nomes.

Ouso dizer que esse lugar foi um dos lugares mais divertidos em que estive. Não há seguranças e nem grades impedindo a movimentação, o que significa que você pode ir pra qualquer lugar da cratera. Tons de amarelo, cheiro de ovo cozido, água borbulhando e neblina formavam o clima de um filme nos confins do universo. E o melhor de tudo é que não tinha ninguém mesmo. Por uns minutos a neblina impedia de ver o caminho, tornando tudo mais perigoso, digo, divertido. Fiquei umas duas horas andando pra lá e pra cá, limpando os óculos toda hora, até que a neblina se desfez e uma horda de pessoas chegou no lugar. O que antes parecia os confins gelados e insólitos do universo se transformou em uma atração de um parque de diversões medíocre.

Dia 8 - Novas amizades

Hoje deixei Yogya para Wonosobo, cidade que fica três horas a noroeste daqui. Wonosobo fica ao pé de dois vulcões (Sindoro e Sumbing) em confortáveis 1.000 metros de altitude, o que significa um clima um pouco mais ameno do que Yogya. O motivo que leva as pessoas a virem para cá é o Dieng Plateau, que fica a mais de 2.000 metros de altitude e é geologicamente ativo. A bem da verdade, a grande maioria das pessoas opta por vir à Wonosobo (Dieng) em um dia e voltar no mesmo dia para Yogya, mas desse jeito você acaba passando muito mais tempo no ônibus do que outra coisa, além de correr o risco de não ver nada por causa da neblina.

Assim que cheguei começou a chover e eu me lembrei de que a única coisa que esqueci de trazer foi um guarda-chuva, que é útil para isso, mas mais ainda para o sol. Depois de quase meia hora em pé com as malas nas costas fui procurar um lugar pra ficar.Os dois primeiros lugares que eu ví eram extremamente baratos, mas passavam longe de serem lugares minimamente aprazíveis. Escuros, apertados e com banheiro sem pia, privada no chão e sem chuveiro (método canequinha). Infelizmente não haviam opções intermediárias e tive que me contentar em pagar mais que o dobro por um mínimo de conforto. Detalhe para a negociação "Chaves" que eu fiz; o perço era 200; pedi 180 e falei que ficaria dois dias; oferta recusada; pedi novamente e a pessoa, numa sagacidade impressionante me oferece 175 pelos dois dias.

Primeira tarefa completada. Falta o guarda-chuva, que com certeza seria muito útil no dia seguinte em Dieng. Duas expressões que eu sempre uso por aqui são jalan-jalan (dando uma volta) e lihat-lihat (apenas olhando) e foi o que fiz até achar uma loja de um senhor simpático. Ele tinha guarda-chuva, mas eram grandes demais e por isso ele foi procurar em outra loja. Enquanto ele fazia isso, o outro funcionário começou a puxar assunto; metade inglês, metade indonésio e muita mímica no meio. Depois de uns minutos aparece mais uma pessoa pra conversar. O básico, de onde vem, pra onde vai, o que acha daqui, etc. O senhor volta com o guarda-chuva, eu compro, mas continuo lá conversando com as pessoas. Eles apontam para pessoas, dizem quem são e o que fazem na área. Quando menos percebi, estava em uma loja de eletrônicos estilo Santa Efigênia explicando como é feita a feijoada. Conversa daqui, conversa da lí e logo aparece um prato com diversos tipos de makanan. Uma delas em particular tem o formato de pão de queijo, a cor do pão de queijo, a consistência de um pão de queijo requentado e se forçar um pouco, tem um gosto que lembra vagamente o pão de queijo. Só que não é pão de queijo e muito menos é feito de queijo. Mas é bom, muito bom. Enak sekali.

Saturday, March 12, 2011

Dia 7 - Prambanan

Prambanan é um complexo de templos hindus nas imediações de Yogya. Ele foi seriamente comprometido por um terremoto ocorrido no final dos anos 2000 e por esse motivo eu tinha receio de perder boa parte da experiência de visitar esse lugar, a exemplo do que ocorreu dias atrás em Borobudur.

Distante uns 20 km da cidade, é fácil alcançá-lo de bicicleta uma vez que daqui até lá é praticamente uma linha reta. Fácil por um lado e difícil por outro. Andar de bicicleta e dividir a estrada com infinitas motos, carros e ônibus não é uma das experiências mais agradáveis no começo, quando se tem a sensação de que a qualquer momento você será atropelado. É interessante como o trânsito em todos os lugares pelos quais passei na Ásia parece um caos, sem regras nem leis, mas depois de um tempo você acaba entendendo que essa dinâmica é bem mais organizada do que parece. É como aquelas enormes nuvens com milhões de pássaros ou insetos. E por mais que eu possa não concordar com algumas coisas no trânsito aqui, devo admitir que ele funciona, e muito bem. E por isso a minha preocupação atual logo foi dissipada. Pensei:"eles sabem o que fazem; é só eu não fazer besteira".

Tudo correu bem e em pouco tempo cheguei no complexo. Como eu previa, alguns dos templos estavam fechados para visitação, mas nenhum dos principais estava passando por profundas obras de restauração, com tapumes por exemplo. Como na maioria das grandes atrações turísticas há uma diferença (muito justa na minha opinião) entre o preços pagos pelos estrangeiros e pelos locais. Aqui é mais ou menos 6 pra 1. E não apenas há essa diferenciação como também há uma entrada diferente para ambos, com a parte dos turistas climatizada e com água/café/chá grátis. Aí a diferenciação se torna desnecessária, mas enfim, talvez seja uma maneira de mostrarem aos turistas o porquê da diferenciação nos preços.

Achei que indo pela manhã escaparia dos tuistas e do calor, mas não aconteceu nem uma coisa nem outra. O dia que começou nublado e garoando logo mudou e esquentou. Muito. Mas muito mesmo. E quanto aos turistas, haviam poucos como eu, mas muitas excursões de escolas locais. Em grupos de 10, 12 estudantes eles abordavam todos os estrangeiros que vissem pela frente e faziam uma série de perguntas como parte de um exercício das aulas de inglês. Como eu não tenho cara de indonésio, fui abordado meia dezena de vezes por eles, todas terminando com sessão de fotos.

O questionário era bem simples. Perguntas do tipo "qual seu nome; de onde vem; o que acha da cidade/Indonésia; banda preferida; como atrair mais turistas para a Indonésia", etc. Duas questões em particular geravam reações das mais positivas quando eu respondia: uma delas era sobre o prato preferido na Indonésia. Pra mim é o gado-gado (tipo de salada cde batata, pepino, broto de feijão, tpfu e molho de amendoim), que é um prato famoso, mas não tão clichê quando outros. Acabei por descobrir que também é o prato preferido da maioria dos estudantes, partindo do princípio de que eles foram sinceros. A outra pergunta se referia ao artista preferido;em vez de responder uma banda qualquer eu falava da minha banda preferida da Indonésia, que no caso é o peterpan (banda pop/rock trabalho digno bem famosa) e ainda emendava o nome de duas ou três músicas. Todos ficaram felizes e certamente surpresos pelo fato de eu conhecê-los.

Thursday, March 10, 2011

Dia 6 - Anda bisa berbicara bahasa indonesia?

Um assunto que sempre será recorrente em qualquer viagem que eu fizer para fora do país será a língua local, exceto quando eu for para Portugal, por razões óbvias.

Aqui não é diferente. Já tinha passado duas semanas em Sumatra em 2008, comprado um dicionário e estudado um pouco por conta depois que voltei para o Brasil. Quando cheguei em Yogya epegeui o ônibus do aeroporto para o centro eu parecia uma criança em fase de alfabetização. Tudo que era texto, placa ou anúncio que eu via, eu tentava ler e traduzir. No começo eu estava um pouco enferrujado e, a exceção dos números, eu não entendia absolutamente nada do que as pessoas falavam. Parecia até que era outra língua.

Mas depois de um tempo e aclimatação eu comecei a entender algumas das palavras que as pessoas falavam e deduzir as frases. Claro que nem sempre funciona, mas é bem útil e eu já consigo me passar por um estudante estrangeiro recém-chegado na cidade. Todo o básico, desde perguntar as horas, direção, preços, nome, etc. já está na ponta da língua. O problema disso é que as pessoas acabam realmente acreditando que eu sei falar indonésio e o que acontece com frequência é: eles perguntam algo e eu respondo em indonésio; eles perguntam outra coisa e eu respondo, emendando um "eu falo meia dúzia de frases"; aí eles formulam uma pergunta enorme falando rápido demais e eu não consigo entender mais que duas palavras, me limitando a dizer "saya tidak mengerti" (eu não entdendo); aí eles fazem uma cara meio desapontada e começa a mímica/palavras em inglês/palavras em indonésio para tornar a comunicação razoavelmente efetiva.

Bagus sekali, Luiz!

Dia 5 - Antropologia

O dia começou de forma bem turística com uma visita ao templo budista de Borobudur. A princípio era para chegarmos em tempo de ver o sol nascer, mas saindo da cidade as 5h30 obviamente que isso não iria acontecer nunca. De qualquer maneira, o lugar impressiona. Não entrarei em detalhes pois vocês sabem muito bem que odeio escrever sobre esse tipo de coisa. Além disso, uma rápida pesquisa no Google já resolve esse impasse. Nota negativa para o fato de que a metade superior do templo estava fechada para reformas devido ao acúmulo de cinzas do Merapi (vulcão que entrou em erupção no final do ano passado).

Essa foi a parte clichê do dia.

Depois de tirar um cochilo (na verdade quase a tarde inteira), fui para uma enorme praça que tem aqui perto, a alun-alun utara, ou simplesmente praça (do) norte. Praça é um pouco de exagero já que o lugar nada mais é do que um grande descampado com meia dúzia de árvores espalhadas. Enfim, acontece que o lugar é ponto de encontro e namoro dos jovens da cidade. Os casais vão de moto, param em algum lugar e ficam lá, conversando. Conversando. Apenas conversando. Ok, talvez um afago aqui e outro alí, mas nada além disso.

Saindo um pouco do tema, a cidade que estou chama-se Yogyakarta ou apenas Yogya (pronuncia-se Djokdja) para os locais. Ela é meio que o centro da cultura de Java em oposição à Jakarta (capital e centro financeiro). Depois de Bali, é o lugar que mais atrai turistas na Indonésia, mas felizmente (para mim, claro) não são muitas as pessoas a perambular por aqui. Isso significa duas coisas: descontos e pessoas sedentas para tentar tirar dinheiro de mim de alguma forma, seja com transporte ou tranqueiras como lembranças de viagem.

Voltando...

No caminho para a tal praça eu passei por um lugar que tinha um parque de diversões e um palco montado. Fora dele, tinha um cartaz enorme que indicava as atrações do mês e para a minha sorte ontem seria uma delas. Um tipo de música bem famoso por aqui é o dangdut, repetitivo e viciante, como qualquer música popular. Só que essa não é a característica principal. O que mais chama a atenção é que são mulheres, com pouca roupa (para o padrão islâmico) acompanhadas de uma banda. E a dança lembra bastante o funk e alguns axés do final dos anos 90.

O show começou por volta das 21h, mas poucas pessoas estavam lá. A esmagadora maioria da plateia era composta por homens (25 anos pra cima), um ou outro adolescente perdido, uma ou outra mulher perdida (talvez acompanhada) e eu, o gringo. Em frente ao palco tem a pista e algumas pessoas ficaram sentadas por lá no início. Atrás e dos lados lados tem alguns bancos e um bar. A maioria das pessoas estava nesse lugar, fumando e bebendo.

A banda é fixa e era composta por 9(!) pessoas. Um baterista, dois guitarristas, um baixista, o cara do bongô, dois caras com instrumentos aleatórios e dois DOIS DOIS tecladistas. Um dos guitarristas era cabeludo e também o responsável pelas introduções às músicas cantadas pelas garotas. Foi das mãos dele que saíram os melhores riffs da noite. Aliás, ele e o baterista estavam claramente deslocados. Eles deveriam sair dessa banda e montar uma de pop-rock grudento que ia fazer bastante sucesso. Ou não.

Pelo que eu entendi era algum tipo de competição, talvez eliminatória entre as garotas. As músicas eram todas muito parecidas e você distinguia quando mudava a cantora. Mais pro final nem isso, já que todas entraram de preto. As pessoas que estavam sentadas petro do bar pouco conversavam e assistiam o show muito compenetradas, já quem estava na pista se levantou e comçou a dançar, balançando os braços como um boneco de posto.

Ontem não aconteceu, mas já ví no Youtube vídeos nos quais alguns caras sobem no palco, dançam com as garotas e dão (ou põem) dinheiro para elas. Aí entra a questão islâmica. Ainda que a Indonésia seja um pouco menos ortodoxas quanto algumas práticas, há um crescente movimento pela volta do conservadorismo (a volta do uso do véu/burca é um dos indícios) e isso via (ou deveria) ir de encontro com essas performances que por vezes são abertas inclusive para crinças.

* não estou conseguindo alterar a formatação dos textos e isso está me irritando bastante

Wednesday, March 9, 2011

Dia 4 - Sono

Dia desses eu estava pensando que, a despeito da fama de ser uma cidada muito congestionada, eu nunca tive qualquer tipo de problemas com trânsito por aqui. Até ontem. Meu vôo para Kuala Lumpur sairia as 20h20 e eu saí do hotel as 17h00, seguindo sugestão da dona que me garantiu que eu estaria no aeroporto em tempo. A van saiu, andou meia dúzia de quarteirões e parou. E não andou nada por pelo menos quinze minutos. A tensão começa a tomar conta dos ocupantes até que ela volta a andar...três metros. Mais dez minutos sem movimento.

A situação melhora, o motorista começa a acelerar como se não houvesse amanhã e passo a prestar atenção em como o trânsito flui razoavelmente bem levando em conta que não há tantos semáforos e que a faixas não são respeitadas com frequência. Pensei comigo mesmo: "puxa, acabo de me dar conta de que nunca vi um acidente que seja em Bangkok". Segundos depois a van para novamente. O motrista disse que teve um acidente perto do aeroporto e que não sabe se conseguiremos chegar a tempo. Mais momentos de tensão que felizmente se dissiparam rapidamente já que a van voltou a andar. De forma frenética, claro, ou não daria tempo.

O meu vôo para Yogyakarta (Indonésia) saiu as 7h00 de Kuala Lumpur (Malásia). Isso significa 8 horas de espera no aeroporto, a exemplo do que já havia ocorrido de sábado para domingo. As cadeiras não eram suficientemente confortáveis para dormir, então eu fiz o que toda pessoa normal faria: comi. E comi, e comi e comi novamente. O bom de ir para lugares baratos é você não se preocupar em ver quanto as coisas custam. E eu tenho duas táticas na hora de comer:

i) ver o que tem e apontar;
ii) ler o que tem e escolher o nome cuja pronúncia é mais engraçada e esperar pela surpresa.

Logicamente a segunda opção é muito mais divertida que a primeira e ela quase sempre funciona. Um dos pratos que eu pedi foi o nasi (arroz) goreng (frito) kampung (vilarejo). Eu sou péssimo para descobrir do que é feita a comida, mas tinha arroz (!), acho que frango, coisas aleatórias e coisas do mar. O cheiro e o gosto não eram dos melhores; parecia com o de um mercado de peixe no final de um dia bem quente, mas como estava com fome, valeu a pena.


Dia 3 - Saya akan kembali ke Indonesia

Depois de muitas especulações, serei conservador e me manterei fiel aos planos iniciais, que começaram a ser delineados nos negros meses de agosto e setembro. Todas as passagens já estão compradas e passarei as próximas quatro semanas em Java, algo que já era para ter acontecido em 2008, quando vim para a Ásia pela primeira vez. Eu tinha uma passagem marcada para Jakarta e o roteiro era razoavelmente parecido com o que tenho agora. Os problemas no aeroporto de Bangkok (estava fechado por manifestantes), atrasariam o meu vôo e eu optei por ir para Sumatra ao invés de Java.

O principal motivo das dúvidas em relação qual roteiro seguir, além da minha natural predisposição de mudar tudo e aversão à uma agenda engessada, é o fato de que ainda estamos na época de chuvas, o que significa na zona equatorial muita chuva. Partindo do principio de que não vim pra cá pra ficar passeando em shoppings e sim para atividades ao ar livre. Entretanto, o calor da Tailândia e adjacências nessa época do ano me fez repensar essa ideia e aceitar um temporal aqui e ali.

Monday, March 7, 2011

Dia 2 - Decisões. Ou não

Hoje acordei decidido a ir à embaixada de Myanmar e tirar o visto pra ir pra lá. 15 minutos depois dessa decisão planejada e programada, decidi que queria ir para o Nepal. E Myanmar. E Indonésia. Foi aí que lembrei que não estou viajando sem restrição de tempo e que não dá para ver todos esses países em menos de quatro semanas. Ou não.

Enfim, fui até o Pantip Plaza (Standecenter daqui) para sondar os preços de algumas coisas, entre elas uma máquina fotográfica. Não contei ontem, mas comprei uma da Sony no freeshop de Doha. Na hora fiquei meio relutante, mas preferi arriscar assumindo que não iria encontrá-la por um preço menor, o que felizmente ocorreu. Tinham algumas mais baratas, mas a minha era 20% mais cara, o que ainda é muito, mas muito mais barato do que no Brasil. Andei, andei, andei e logicamente não comprei nada, nem um mísero fone de ouvido.

Da outra vez que vim para Bangkok não fazia tanto calor. É praticamente insuportável ficar o tempo todo na rua então eu sempre procuro conciliar as minhas andanças com entradas rápidas em shoppings e 7 Eleven.

Outro objetivo do dia era comprar uma camsieta da seleção nacional, tarefa difícil já que da última vez eu procurei virtualmente em todos os lugares possíveis e não encontrei. Fui até o estádio nacional, circulei pela região, entrei em muitas lojas, falei com muitas pessoas e...falhei novamente! O máximo que consegui foram camisetas de times locais e algumas de times estrangeiros, todas obviamente falsificadas na rua mesmo pra todos verem.

Só pra não chover no molhado e ficar repetindo muitas das coisas quefiz por aqui em tempos passados, fui até o maior prédio da cidade para ver o sol se por e ver o quão grande Bangkok de fato é. Subir os 84 andares me fez pensar por que não tempos prédios que cheguem perto desse tamanho. Há uma luta enorme pra se construir prédios com 40 andares, o que dira 84. Foram 10 reais muito bem gastos e saindo de lá me dei conta de que seria muito interessante me decidir logo para onde vou de maneira que eu consiga comprar as passagens. Peguei o metrô e fui fazer baldeação com o barco, mas antes decidi parar para comer num lugar que cheirava bem e tinham muitas pessoas. Isso de fato nunca falha. Quando voltei para o rio, os barcos já tinham encerrado o expediente e não havia outra maneira fácil para voltar. Voltei a pé elogicamente não cheguei a tempo de comprar as passagens na cia aérea.

Terei uma noite inteira para fazer milhares de planos, esquecê-los e fazê-los novamente.

Sunday, March 6, 2011

Dia 1 - A volta

Voltei!

Como eu sei que ninguém vai ler nada até quarta-feira, não me prolongarei.

Comida boa, barata e apimentada = não precisamos de mais.

E está quente. Muito quente. 30C as 22h.