Tuesday, February 10, 2009

Ciao

Hoje, 10 de fevereiro, eu completo o meu dia de número 154 e, em virtude dos meus deslocamentos a partir de amanhã, o meu último dia "prático" na viagem. Amanhã é dia de pegar o vôo de volta para Délhi, matar o tempo na quinta-feira e começar a via-sacra de volta ao Brasil a partir de sexta, com uma pequena parada em Munique para finalmente aportar em solo tupiniquim junto com os primeiros raios solares de sábado.

Hoje se encerra o último capítulo de uma história que começou dois anos atrás, com a minha primeira viagem internacional, para o Chile. Lá ,eu conheci uma australiana que tinha pedido demissão do emprego para viajar o mundo por alguns meses, enquanto eu tinha que me contentar com menos de duas semanas. Eu lembro bem de termos conversado sobre o fato de que o emprego não poderia ser um empecilho para esse tipo de plano e que quando a gente volta, logo se recoloca no mercado de trabalho. Ano passado eu voltei para o Chile e novamente conheci uma porção de europeus desmiolados que gostam de viajar por meses a fio. Então pensei: "Por que eu não sou o sulamericano desmiolado que viaja por meses a fio?".

Mas antes que a idéia de viajar se concretizasse com um plano específico, eu cismei (e ainda tenho essa cisma) que queria passar alguns meses na Europa para aprender uma língua fora do circuito latino, mais especificamente sueco. Eu tinha um plano e tinha dinheiro, afinal, desde que comecei a trabalhar, quatro anos antes, passei a economizar o máximo que podia. Eu economizava, mas não sabia exatamente para o que; poderia ser um carro novo,um MBA ou uma viagem, mas o importante era ter o dinheiro na mão quando me decidisse. Gosto de ter opções e não ficar engessado com meus planejamentos.

Antes de sair do país, eu precisava sair do emprego e isso não foi uma tarefa fácil. Poucas vezes na vida você tem a oportunidade de fazer o que gosta, com pessoas com as quais você se dá muito bem, com boas possibilidades e tudo dentro de um ambiente leve e amigável. Pelo menos para mim, era como trabalhar em uma versão tupiniquim da sede do Google no Vale do Silício. Não foi fácil, mas tinha que ser e foi feito.

A partir daí, eu tinha todo o tempo do mundo para escolher a escola e ver toda a documentação necessária para fazer o curso fora do país. É aí que entra o grande problema: todo o tempo do mundo. Quanto mais eu penso, maiores são as chances de eu mudar o que já era dado como certo. O curso de sueco de nove meses virou 2 cursos (sueco e àrabe) de dois meses cada mais dois meses viajando, depois virou um curso de dois meses e o resto do tempo viajando e, quando menos percebi, não queria fazer mais curso algum.

Ok, seis meses para viajar e uma infinidade de opções na Europa para escolher. Como eu sou do contra, abro mão dos países mais mainstream e foco em lugares menos requisitados como Romênia e Estônia. Entretanto, eu ainda tinha todo o tempo do mundo para pensar e para pesquisar e foi aí que eu descobri um blog de um casal que fez uma viagem pelo sudeste asiático por mais ou menos quatro meses. Vários países alternativos, muitas fotos bacanas, experiências interessantes e "pouco" dinheiro gasto.

Ok, então nesse ponto eu dividi a viagem entre Europa e Ásia. Dois meses na Europa, três meses na Ásia e mais um mês no velho continente para "ver a neve cair do céu". Bom, como vocês já devem ter percebido, ainda havia margem para mudanças porque eu ainda tinha muito tempo para pensar. As semanas foram passando até que em meados de Junho eu decidi deixar a Europa de lado e me concentrar apenas na Ásia, por achar que a experiência seria mais rica. Os planos ficaram mais concretos.

No dia 30 de Julho e ligo para a companhia aérea meio que sem compromisso e termino a ligação com as passagens compradas. Agora era pra valer. Em quarenta dias eu embarcaria rumo à Bangkok sem um rascunho que fosse de um roteiro. Comprei os guias de viagem do Sudeste Asiático e da Índia e comecei a esboçar uma rota. Como eu dificilmente me preocupo demais com algo, deixei o tempo passar e só fui começar a resolver os detalhes da viagem nas duas últimas semanas. Um punhado de vacinas aqui, um cartão de crédito a mais alí e eu estava pronto.

Como vocês puderam acompanhar nesses cinco meses, a viagem sofreu algumas mudanças, tive muitas boas surpresas e que o resultado final ficou bem além de tudo o que eu tinha imaginado. Acho que os textos resumo de cada país exprimem um pouco do que falei aqui.

Durante toda a viagem eu sempre tive a impressão de que tudo corria muito naturalmente e nunca senti nenhuma dificuldade. Não que eu seja a pessoa mais esperta do mundo ou a mais adaptável, talvez a cultura asiática não seja tão diferente quanto a gente pensa ou talvez eu consiga flutuar facilmente entre ocidente e oriente e essa foi certamente uma das descobertas mais interessantes que fiz.

Notei também que gosto muito mais de "gente da gente" do que eu imaginava e isso fica bem claro nas minhas incursões nos vilarejos do Laos. Além disso, me surpreendi com a minha capacidade de guardar informações aleatórias e depois concatená-las para fazer argumentações mais complexas, como na experiência na Universidade na Indonésia.

E também não posso deixar de mencionar os idiomas. Não fui pra Suécia e nem aprendi sueco, entretanto aprendi um punhado de palavras e frases úteis em diversos idiomas, incluindo os de países que não visitei, como Coréia e Japão. Não só aprendi a falar, como me arrisquei a tentar entender a complexidade do alfabeto lao ou a estrutura da língua indonésia. Língua indonésia essa, que eu mais aprendi e me interessei durante toda a viagem a ponto de saber uma infinidade de palavras, ainda que eu não saiba encaixa-las em frases ainda.

Meu propósito na viagem era ficar o mais longe possível dos outros ocidentais, de forma a não atrapalhar a minha busca para entender melhor a cultura oriental. Portanto, eu dei preferência, pela ordem, para: locais, ainda que a comunicação fosse restrita; asiáticos de maneira geral; latinos e por fim, europeus. Nesses cinco meses de viagem e com mudanças constantes de cidade, fiz um punhado de amizades meteóricas, de poucas horas e que eventualmente podem continuar e serem aprofundadas e as quase duas semanas em Luang Prabang permitiram a criação de um vínculo um pouco mais duradouro com parte da legião coreana que lá estavam.

Esses cinco meses serão obviamente, inesquecíveis, e não me arrependo em nenhum momento das decisões que tomei para chegar aqui, da demissão ao trancamento da faculdade, à quase exaustão das minhas economias em tempos de crise. Falar que eu aprendi muita coisa e descobri mais um outro tanto é bem clichê e por isso eu não vou perder mais tempo falando nisso. Além do mais, eu prefiro dizer que nesses cinco meses eu exercitei um lado meu que não era muito acionado antes.

Como toda viagem longa pede, e muitos de vocês vão me perguntar, seguem alguns TOP5:

Países:
1. Laos
2. Tailândia
3. Indonésia
4. Myanmar
5. Malásia

Cidades:
1.
Luang Prabang - Laos
2. Bangkok - Tailândia
3. Bagan - Myanmar
4. Bukittinggi - Indonésia
5. Pwin Oo Lyin - Myanmar

Lugares turísticos:
1.
Os milhares de templos de Bagan - Myanmar
2. Os templos de Angkor - Camboja
3. Bangkok - Tailândia
4. A Chinatown de Melaka - Malásia
5. O sítio histórico de Sukhothai - Tailândia

Comidas:
1.
Qualquer coisa tailandesa
2. Laap Kai do Laos
3. Salada de abacate e tomate em Bagan - Myanmar
4. Tandoori Chicken na Malásia
5. Beerlao :)

Experiências:
1.
Aula na Faculdade de Bukittinggi - Indonésia
2. Almoço com Beerlao no gelo em um vilarejo de Luang Prabang - Laos
3. Ser conhecido por metade da cidade em Pwin Oo Lyin - Myanmar
4. Festa de família, sinuca e mais Beerlao no gelo em um vilarejo de Vang Vieng - Laos
5. Voltar para Bangkok e Luang Prabang e saborear a doce nostalgia desses lugares

Bangkok leva o prêmio "conjunto da obra", por reunir características que despertaram o interesse de, quem sabe um dia, trocar o ocidente pelo oriente.

No mais, quero agradecer o apoio dado aqui no blog e fora dele tanto pelos leitores assíduos e "comentaristas", quanto pelos leitores "de ocasião". Lembrando que sim, eu fiz o blog para exprimir as emoções e sentimentos e não descrever alegoricamente os lugares turísticos que visitei. Se vai dar um livro eu não sei, mas já tenho um pequeno grupo de pessoas dispostas a comprá-lo! :)

Abraços e até a volta!

Sunday, February 8, 2009

Dia 153 - Resumo - Tailândia

A Tailândia é ponto de partida praticamente obrigatório em qualquer viagem pelo Sudeste Asiático, seja pelo aeroporto de Bangkok, hub da região, ou, principalmente pelo fato de que a Tailândia é boa, bonita e barata. Das praias paradisiácas, que eu infelizmente não tive conhecer, passando pela moderna e cativante capital, os síitios históricos de Ayutthaya e Sukothai chegando ao norte, em Chiang Mai, portal para trekkings, a Tailândia oferece atividades para qualquer tipo de turista.

E é o país perfeito para a "aclimatação" necesária para essa viagem por diversos motivos: i) acostumar-se com o trânsito "invertido", tal qual no Reino Unido; ii)aprender a lidar com os motoristas de tuk-tuk; iii) comida ligeiramente mais apimentada do que o nosso paladar está acostumado; iv) calor; e como é quente por aqui, especialmente Bangkok; v) budismo e os "do's and don't's".

Eu me adaptei bem rápido a tudo isso, muito embora não seja nenhum feito a ser declamado aos quatro ventos. Comecei por Bangkok, fiquei uma semana e depois comecei a rotina de me mudar de cidade a cada três ou quatro dias, quando fui para Ayutthaya.

Tirando a Malásia, a Tailândia é o país que reúne as melhores condições para quem está viajando, principalmente no quesito transporte, com linhas de trem e ônibus muito eficientes. No meio da viagem, fui para uma cidadezinha sem muitos chamarizes para turistas e na qual quase ningué falava inglês e o resultado foi óbvio: para comer e pagar o que pedi foi necessária muita mímica.

Ainda que as pessoas não sejam tão amigáveis quanto no Laos, dá pra ver que os tailandeses realmente gostam dos turistas e isso não se deve apenas ao dinheiro que eles aportam no país. Claro que sempre vai ter alguém que vai tentar te passar a perna, mas basta um pouco de bom senso (e evitar os motoristas de tuk-tuk) que você não será enganado.

Foi aqui que eu fui em uma loja de ternos três vezes no mesmo dia, número maior do que todas as outras vezes que eu fui na minha vida.

Aqui começou e aqui terminará a viagem e aqui provavelmente começará a minha próxima jornada.

i) no dia em que cheguei no Laos, não dividi o quarto com o chinês e nem dormi na rua; depoisde viajar por 30 horas, eu não tinha outra opção que não dormir no primeiro lugar que aparecesse;

ii) voltando do Laos, fiz amizade com um grupo de tailandeses e aprendi a origem do termo siamês. Até 1939, a Tailândia chamava-se Siam e, mais de um século atrás, dois gêmeos nascidos em Siam, portanto siameses, fizeram fama no mundo viajando com um circo. Em virtude dessa fama e da raridade do caso, o termo siamês foi adotado para gêmeos idênticos cujos corpos foram "juntados" no útero;

iii) atualização completa das fotos.

Dia 152 - Resumo - Laos

O Laos (lembrem-se que não se pronuncia o "s") foi a minha segunda parada na viagem e certamente aquela que mais me marcou. Ao contrário de seus vizinhos, esse simpático país sem saída para o mar não possui nenhuma atração turística de grande porte como Angkor no Camboja, não tem as praias da Tailândia e nem tem uma história conturbada como o Vietnã. Entretanto, nos primeiros dias no Laos as pessoas acabam percebendo que a maior riqueza desse país não se mensura em dólares ganhos com tickets para atrações turísticas. A maior riqueza está no povo, que contribuiu para as melhores experiências que tive nessa viagem.

Visitei cinco cidades, começando por Luang Prabang, meu lugar preferido de toda viagem e que acabou estabelecendo um padrão deveras alto para as cidades que viriam a seguir. Luang prabang terá (mais um) post dedicado a ela. Rumo ao sul, fui pra Vang Vieng, onde, em um vilarejo mais afastado da cidade, fui convidado para uma pequena festa familiar com comida, cerevja com gelo e sinuca. Depois foi a vez de conhecer Vientiane, capital do país e única cidade em toda viagem na qual eu consegui distinguir um dia da semana do domingo. Aliás, preciso fazer uma retratação a esta belíssima cidade que tanto mal eu falei por causa das comparações injustas com Luang Prabang. Depois foi a vez de uma breve parada em Savannakhet, cidade que não me cativou muito e fez com que no mesmo dia eu pegasse um ônibus para Pakse, cidade que deverá, no futuro, ter uma posição estratégica no turismo das regiões do sul do Laos.

Uma das coisas mais bacanas do Laos são as viagens de ônibus, não tanto pelas cenas que presenciei dentro deles, mas principalmente pelas cenas que ví através das janelas. Os caminhos, especialmente entre Luang Prabang e Vientiane são bem sinuosos, a paisagem exuberante e a quantidade de vilarejos entre as estradas e os abismos é surpreendente. E todos são convidativos, tanto que sempre que os vejo, tenho vontade de sair do ônibus e ver o que tem por lá. Acho que ficaria um mês pulando de vilarejo em vilarejo.

Muito embora a Tailândia seja a terra dos sorrisos, é no Laos que encontramos as pessoas mais amigáveis, pacatas e divertidas. Sejam todas as crianças de uma escolinha correndo atrás de você falando sabaidee, uma velhinha simpática sentada em sua cadeira sorrindo ou um grupo de pessoas te convidando para uma Beerlao, você sempre se sente em casa e querido no Laos. Talvez pela cultura do país ou então pelo fato de que ele ainda não foi dominado pela malígna indústria do turismo, o Laos é o paraíso em forma de país e fico feliz de tê-lo incluído mesmo sem saber direito o que esperar dele.

Saturday, February 7, 2009

Dia 151 - Fatos esquecidos e/ou omitidos

Durante esses cinco meses de viagem eu procurei detalhar ao màximo as impressões que eu tinha nos lugares que visitava. Algumas vezs, porém, alguns detalhes escaparam à minha memória na hora de escrever. Em outras, achei mais prudente omitir alguns fatos para não preocupar aqueles que acompanhavam o meu dia-a-dia por aqui.

Vamos a eles:
- durante uma conversa com um tailandês enquanto esperava um trem, o dito cujo vira pra mim e diz: "Eu vou cantar uma música que gosto muito e significa muito pra mim."; nisso, ele começa a cantar Let it Be a plenos pulmões e com todo o sentimento do mundo;

- no episódio do roubo durante a viagem noturna entre Bangkok e Penang eu também fui roubado, muito embora eu tenha descoberto isso semanas depois. Eu sempre deixo um dinheiro escondido na mala grande para que em caso de emergência, eu possa "sobreviver" uns dias até resolver a situação. Exatos 104 dólares e 25 euros foram surrupiados;

- na primeira visita a Luang Prabang eu quase quebrei o pé esquerdo ao calcular erroneamente a profundidade de uma cachoeira. Felizmente o pé doeu por alguns dias apenas;

- na semana que eu fui pra Myanmar, passei mal por uns dois dias em Bangkok, tudo devido à gula. Descobri que um hotel tinha um buffet de caé-da-manhã por apenas cinco dólares e resolvi fazer a festa. Todos os tipos de comida foram ingeridos, desde sushis, arroz, bolos, ovos, bacon, frutas, sanduíches, sucos, chá e sorvetes. O resultado de fato não poderia ser outro;

- na mesma semana, agora em Myanmar, veio o pior episódio; depois de comer comida de rua três vezes em um mesmo dia, o meu organismo "pediu àgua". Perdi quatro dias com isso, mas pelo menos uma coisa boa saiu desse episódio: resolvi diminuir a minha estada na Ìndia para diminuir as chances de passar mal por lá, coisa que, ironicamente, nunca ocorreu.

Dia 150 - Resumo - Camboja

Muitas pessoas conhecem o Camboja por um dos seguintes motivos: i) os templos de Angkor, considerados a oitava maravilha do mundo; ii) o regime sangrento de Pol Pot, que matou perto de um milhão de cambojanos; iii) por último, e não tão nobre assim, a adoção de uma criança local pela Angelina Jolie.

Obviamente que eu inclui esse simpático país pelos dois primeiros motivos, recheados de história, geralmente negligenciada no Ocidente. A bem da verdade, em todos os meus anos escolares eu lembro de ter tido alguns minutos sobre o Vietna e só; como se todos os outros países da região não tivesse importância ou não compartilhassem um passado em comum.

Em Siem Reap, base para ver os templos de Angkor, eu tive uma pequena mostra do que seria a minha estada na Ìndia. A despeito de ser um dos locais mais procurados do mundo, a cidade tem um infra-estrutura sofrível, com poucas ruas asfaltadas e que alagam depois de qualquer chuvinha. Além disso, os motirstas de tuk-tuk são os mais insistentes e impertinentes de todos os países do Sudeste Asiático que visitei; eles gritam do outro lado da rua para chamar a tua atenção, insistem e insistem até você perder a paciência e não são lá muito educados. Isso sem contar o fato de que você não tem paz nas ruas, uma vez que você é abordado constantemente por eles.

A despeito disso, os templos realmente são espetaculares, mas o mais espetacular foi um por do sol que eu presenciei em um dos dias ue estava lá. Eu estava em um lago enorme ver o sol se por quando o tempo virou completamente, com nuvens escuras e ventos uivantes e toda essa combinação me ajudou a tirar algumas das fotos mais espetaculares da viagem.

Phnom Penh, capital do país, me surpreendeu por ter um razoável planejamento e ser bem cuidada, ao contrário do que eu havia ouvido anteriormente. Acho que isso é uma das características em comum das cidades "francesas" na Àsia. Ainda que elas estejam em países bem pobres, elas costumam ser bem mais atraentes para os olhos e isso ocorreu até mesmo na Ìndia, com a cidade de Pondicherry.

Friday, February 6, 2009

Dia 149 - O porquê da volta ao Sudeste Asiático

A primeira vez que me passou pela cabeça voltar à Tailândia e ao Laos foi em Hyderabad, quando eu já estava há duas semanas na Ìndia. Foi um dia que começou mal, pela total falta de simpatia dos donos dos hoteis que procurei, e terminou pior ainda, com o tapa que um mendigo me deu só porque eu me recusei a dar esmola. Nesse dia eu comecei a pesquisar preços de passagens aéreas, além de mudar o roteiro para sobrar alguns dias sem precisar cortar nenhuma cidade, afinal eu queria ver tudo o que eu tinha me proposto a ver.

Duas semanas depois, em Jaipur, veio a gota d'`agua com a discussão sem sentido e que quase terminou em briga com um motoqueiro (ver dia 131). Eu já estava decepcionado com o país e esse acontecimento me fez perder qualquer vontade de continuar viajando. Além disso, não queria terminar a viagem extremamente feliz e aliviado por estar deixando a Ìndia. Feliz sim, mas aquela felicidade triste por estar deixando pra trás um lugar no qual você viveu experiências fantásticas.

Infelizmente não consegui remarcar a minha volta por Bangkok e fui obrigado a comprar uma passagem de ida-e-volta para a Tailândia. Consegui pegar uma promoção, mas logicamente que eu paguei uma pequena fortuna, especialmente se considerarmos o fato de que eu ficaria no Sudeste Asiático por apenas dez dias. Paguei, e paguei feliz porque sabia que essa volta valeria muito à pena.

Se vocês lerem os dias 143 e 147, nos quais eu conto a minha volta para Bangkok e Luang Prabang respectivamente, vocês entenderão bem o que eu estou tentando dizer. Desde o primeiro minuto em Bangkok, a vontade de viajar voltou com força total e eu fui inundado pela felicidade triste que mencionei anteriormente. Essa volta me fez lembrar de muitas das experiências bacanas que tive, além de me proporcionar a chance de reviver algumas delas.

No final das contas, voltarei para o Brasil com o sentimento que eu queria, muito embora ele não seja muito agradável agora pelo fato de eu saber que demorará bastante para eu voltar para esses lugares.

Dia 148 - Resumo - Myanmar

Myanmar, país anteriormente conhecido como Birmânia, não estava nos meus planos de viagem. Na verdade, eu queria muito ir pra lá, mas tinha lido que o visto era quase impossível de conseguir - vale lembrar do episódio do tufão que matou mais de 30 mil pessoas e o país recusou e proibiu a entrada de ajuda humanitária. Um dia, ainda no Laos, estava procurando informações sobre o sul do país e acabei topando com um guia sobre Myanmar com muitas fotos fantásticas, o que me fez mudar de idéia e tentar o visto. Pra resumir a história, consegui o visto em apenas dois dias em Bangkok.

De todos os países que visitei, Myanmar era o que eu tinha menos informações, seja pelo guia de viagem ou pela internet. O que eu tinha de informação, eu recebi de um canadense que eu conheci no Laos e que sintetizou, em poucas palavras, o que seria a experiência em Myanmar: "Há pouquíssimos turistas por lá e por isso as pessoas ainda são muito curiosas em relação a eles.". E a minha experiência por lá seguiu esse caminho; poucos turistas e milhares e milhares de pessoas que me abordaram só pra dizer minglaba (oi).

Myanmar é um país único. Como eu relatei por aqui, além dos artistas cantando músicas locais, eles pegam músicas ocidentais, traduzem e cantam da mesma forma que a canção original; se você não prestar atenção, não verá diferença. Além da música, boa parte dos homens usam saia, talvez pela influência dos indianos que foram trazidos na época em que o país estava sob o domínio britânico e o tanaká (talco) que as mulheres e crianças usam no rosto.

Das quatro cidades que visitei, duas se destacaram: i) Pyin Oo Lwin ou "A pequena Bretanha" é uma cidade pequena, com clima agradável e locais àvidos pra conversar. Em poucos dias, metade da cidade já me conhecia e muitos deles quando me viam falavam "Equador"; ii) Bagan deve ter sido o lugar mais fantástico que eu ví em toda viagem. Em uma planície se encontram milhares e milhares de templos e stupas, longe de casas, carros e pessoas. As construções, isoladamente, não são tão especiais, mas o conjunto, principalmente se visto do topo de um grande templo e no por-do-sol, é uma coisa que as fotos que tirei e muito menos as palavras que escreví conseguem mostrar com exatidão toda a beleza desse lugar.

Por causa de um problema no início da viagem que será relatado adiante e pela precariedade dos meios de transporte, deixei de visitar outros lugares interessantes fazendo com que Myanmar seja o primeiro destino a ser revisitado no Sudeste Asiático.

Wednesday, February 4, 2009

Dia 147 - Volta pra casa

Uma volta para o Sudeste Asiático nunca estaria completa se eu não voltasse para Luang Prabang, minha cidade preferida do meu país preferido, o Laos. E essa volta não foi fácil, comoquase sempre costuma ocorrer com os meus deslocamentos. O primeiro passo foi pegar um ônibus em Bangkok para Vientiane, capital do Laos e que fica no lado lao do Mekong. Só nessa brincadeira, mais todo o processo de imigração foram 14 horas. Ao contrário do que eu esperava, o ônibus não nos deixou em um dos terminais e sim no centro da cidade, o que não me ajudava em nada já que eu estava lutando contra o tempo.

Entre Vientiane e Luang Prabang são 8 horas no ônibus VIP ou 10 horas no ônibus local, muito mais barato. Pela hora que cheguei (9 da manhã), seria impossível pegar o ônibus VIP e as chances de conseguir um lugar no ônibus convencional eram mínimas. Mesmo assim, quis testar as minhas chances já que não queria perder um dia em Vientiane. Para minha sorte, haviam lugares disponíveis no ônibus, só que ele iria se atrasar um pouco. Esse atraso, aliado ao fato de que viajamos por algumas horas sem a luz do dia, fez com que chegassemos perto de meia-noite em Luang Prabang, quase 30 horas depois de eu sair de Bangkok.

Como quase tudo aqui fecha por volta das dez da noite, seria quase impossível achar um lugar por um preço razoável e por isso peguei a segunda opção de guesthouse que eu tinha. A segunda porque não havia possibilidade nenhuma de eu pegar a primeira. Eu, um britânico e um chinês que não falava inglês rachamos um tuk-tuk até a cidade para procurar um lugar. Achamos, só que só haviam dois quartos disponíveis; um ficou com o britânico que foi quem deu a idéia do luagar e o outro... bem, eu NUNCA iria dividir uma cama com um chinês que eu nunca ví na vida. Preferia, e já estava me acostumando com a idéia, dormir ao relento em algum banco disponível para não pagar uma fortuna por ssa noite.

Acordei o mais cedo possível e fui na guesthouse que fiquei aqui da outra vez. Para minha felicidade, há quartos disponíveis e saindo daqui eu me mudo para lá. Além do povo bacana, do terraço dela dá pra ver um templo que fica em uma montanha próxima e a lua, que está ficando cheia!

Ah, e pra quem viu a reportagem do ZéCamargo no Fantástico, saiba que eu encontrei com o dito cujo no meu primeiro dia aqui, em 05 de Outubro. Na hora, lembrei que uns dez anos antes ele fez uma série de reportagens pela Àsia passando, inclusive, pelo Laos. Na época achei que ele tinha gostado e por isso tinha voltado, mas na verdade ele veio a trabalho também.

Meus planos aqui são bem simples: andar, comer, ler, BeerLao e ver a lua.

Dia 146 - Resumo - Malásia

Infelizmente para mim a Malásia serviu apenas como entreposto para a Indonésia e depois para a Ìndia. Na verdade, nem era pra eu ter ido para a Malásia, mas os protestos em Bangkok e o consequente adiamento do meu vôo para a Indonésia fizeram com que eu cancelasse esse vôo e fosse para a Indonésia por terra e mar via Malásia.

Visitei apenas duas cidades e fiquei menos de uma semana no total,mas as minhas impressões foram as melhores possíveis. Georgetown, na ilha de Penang, e Melaka são duas cidades que alcançaram o status de patrimônio da Unesco no ano passado e fazem por merecer esse título. São cidades com muitos edifícios históricos, todos muito bem conservados, limpas, seguras e com boa infra-estrutura. Isso faz com que essas cidades tenham um magnetismo natural para turistas, que éa única coisa que não me agradou nelas. Turistas demais acabam tirando o charme de qualquer lugar.

Tirando isso, foi uma experiência efêmera, porém agradável e eu acho que dos países que eu visitei, a Malásia é o mais desenvolvido. Há planos para voltar, conhecer Kuala Lumpur e ir para a ilha de Borneo.

Tuesday, February 3, 2009

Dia 145 - Resumo - Indonésia

Com a viagem chegando aos seus últimos dias e nenhum país ou cidade novos pela frente, começo, a partir de hoje, a resumir o que foram os mais de três meses no Sudeste Asiático, já que fiz as minhas considerações finais dias atrás. Esse resumo também é bom para quem NÃO acompanhou um único dia sequer do blog e quer saber um pouco sobre o que eu escrevi.

Começo pela Indonésia, que foi o meu último país no Sudeste Asiático. Pela falta de tempo, fui obrigado a me contentar com pouco menos de duas semanas no maior arquipélago da Terra. Apenas com essa informação, concluímos que as possibilidades na Indonésia são quase infinitas. Milhares de ilhas para escolher, todas com diversas etnias e eu acabei escolhendo Sumatra, muito em função da proximidade com a Malásia.

Apesar de ter praias, vulcões, lagos e florestas para se aventurar, o fato de eu ter ido pra lá na época das chuvas limitou bastante os meus movimentos na ilha. Apesar disso, a experiência em Sumatra foi das mais gratificantes da viagem. Em Medan, primeira cidade, conheci um grupo de amigos e saí com eles por uns dias, indo inclusive em uma celebração do Natal em um hotel local. Em Bukittinggi, última parada, eu me senti uma celebridade; otoda hora me paravam na rua para tirar foto e o "assédio" era contínuo. Além disso, fui convidado para participara de uma aula em uma faculdade de línguas da cidade, onde fui sabatinado por umas 25 pessoas.

Pela monstruosa diversidade étnica da Indonésia, é fácil perceber que o Islã lá é um pouco diferente do que estamos acostumados. A diversidade impede que haja uma corrente do islamismo dominante e ao mesmo tempo permite que formas mais brandas sejam praticadas.

O único ponto que realmente me chocou foi a taxa de fumantes do sexo masculino: creio que entre 70% e 80% dos homens das cidades nas quais estive fumam, e muito. E infelizmente não há leis (ou não são seguidas) contra o fumo, já que nas duas vezes que viajei de ônibus climatizado, as pessoas fumaram deliberadamente.

Fora isso, é um país extremamente agradável e com habitantes muito simpáticos, com interesse genuíno no turista. Claro que essa é uma visão bem superficial do povo indonésio, baseada em duas cidades e etnias o que significa que nas outras ilhas a situação pode ser diferente.

Monday, February 2, 2009

Dia 144 - Rumual Laos

Para encerrar a viagem com chave de ouro, nada melhor do que voltar para o lugar que eu mais gostei até aqui: O Laos, mais especificamente, claro, Luang Prabang. Muito embora eu tenha gostado muito do Laos, vai demorar muito tempo para eu voltar para lá, uma vez que eu tenho planos de visitar outros lugares antes.

Ainda que eu não tenha muitos dias até a volta para aquele país simpático da novela das 8, acho que vale a pena passar, nem que sejam três dias em LP. A viagem será longa (24 horas) e eu ainda corro o risco de não conseguir passagem e ficar preso em Vientiane um dia, mas tudo isso valerá a pena. Só tenho receio quanto a minha volta, pois segunda é feriado por lá e eu posso não conseguir condução de volta pra Tailândia. Só que isso eu deixo pra me preocupar quando chegar lá...

Quanto a Bangkok, hoje eu perdi a conta de quntas vezes eu comi, já queessa cidade desperta as lombrigas que se abrigam no meu estômago. É bom poder comer na rua qualquer tipo de comida e não ter aquela preocupação sobre possíveis efeitos colaterais. Falando em comer qualquer tipo de comida, hoje eu tomei LEITE depois de quase um mês e meio. É a Índia ajudando a criar casos precoces de osteoporose!

Sunday, February 1, 2009

Dia 143 - Volta pra casa

Quando eu pisei em solo tailandês, ficou provado de uma vez por todas que a minha decisão de voltar foi a mais acertada possível. Na imigração, fui atendido com sorrisos, devolveram o pasaporte na minha mão (ao contrário dos indianos que simplesmente jogam o pobre coitado) e ainda ouvi um "tchau" quando fui embora.

A partir daí, começou a sessão nostalgia. Coincidentemente, eu estou usando hoje a mesma roupa que usei no dia que eu cheguei aqui pela primeira vez, no já longínquo 12 de Setembro. Peguei o ônibus para a cidade e dessa vez eu sentei do lado esquerdo (sim, eu lembro exatamente onde sentei da primeira vez) para apreciar o lado que foi negligenciado em setembro. O dia já estava terminando e a cidade estava ilumidade pelas luzes de seus grande edifícios com bela arquitetura. Nos trinta minutos que se seguiram até o destino final, os olhos não saírma da janela, procurando olhar cada detalhe da cidade, muito embora quase tudo o que eu ví eu já conhecia. Mesmo assim, havia a sensação de novidade no ar.

Pra não ser exatamente como no primeiro dia, não fiquei na mesma Guesthouse, ainda que o lugar escolhido tenha sido minha moradia nointervalo entre o Camboja e Myanmar e entre Myanmar e Malásia. Quando o serviço é bom, os clientes voltam mesmo! Depois de instalado, fui sentir a MINHA cidade novamente. O ar é diferente. Poluído sim, mas mais úmido e menos pesado do que na Índia. E o cheiro... Bangkok tem comida esplhada por todos os cantos da cidade. Para onde você olha ou aponta o nariz, um cheiro convidativo virá até você.

Voltando a ser conservador e comi no mesmo lugar do primeiro dia. Lembro que nesse dia tinha chovido e eu conhecí um australiano que tinha morado na Coréia por alguns anos e me indicou um prato, que viria a se tornar o meu favorito por aqui e no Laos: khao phad kai; o bom e velho arroz frito com frango. Como eu estava com fome, além desse prato eu pedi um outro, também com frango e pimenta. Aliás, ainda que as comidas tailandesas e indianas sejam apimentadas, o "fator picante" da comida tailandesa não se sobrepoe ao sabor natural dos alimentos, o que a torna mais interessante ao meu paladar.

Para minha surpresa, a dona do local lembrou-se de mim. "You, long time", disse ela. Tudo bem que eu estava com a mesma roupa (que ela também lembrou), mas nunca imaginaria que ela se recordaria de mim. Parece quenão é sou eu quem tem boa memória por aqui! Conversamos um pouco e ela me indicou um punhado de lugares para visitar em Bangkok. Ainda não sei quais serão os planos pros próximos dias, mas tentarei encaixar esses lugares neles.

Não pretendo fazer muita coisa além de comer, comer e comer. Ah, e andar a esmo, coisa que eu não faço há mais de 40 dias!

Senti falta do cheiro, das cores, da hospitalidade da comida, da dificuldade de me comunicar e da felicidade ao conseguir pronunciar palavras aleatórias e ver a cara de satisfação de quem as ouve. Estou feliz novamente!


i) antes que alguém venha falar algo, a calça jeans que estou usando só foi usada no primeiro dia e a camiseta não foi usada tantas vezes assim, ainda que ela já esteja terminando a carreira.