Thursday, March 17, 2011

Dia 12 - Errando o caminho e se perdendo

Para chegar ao topo do Lawu em tempo de ver o sol nascer é necessário começar a escalada por volta das 23h. O início da subida fica em um povoado distante uns 7 quilômetros de onde estou e pode ser percorrido por minivan ou moto. Antes de ir, tirei uma soneca esperta de duas horas, já que ia ficar a noite toda sem dormir. Saí do hotel as 21h30, desci até o ponto onde as minivans ficam esperando e...nada de minivans. Depois de uns minutos esperando, um cara me oferece para me levar de moto, mas é irredutível quanto ao preço cobrado. Depois de quase perder as esperanças de ir neste dia, uma minivan aparece, negociamos um preço razoável para as duas partes e ela me leva até a entrada do Lawu.

Chegamos lá por volta das 23h e não havia ninguém na entrada, onde eu supostamente deveria me registrar e pagar uma quantia simbólica. Começa a subida. A primeira parte da subida é bem tranquila: o caminho é pavimentado com pedras (que depois se tornariam uma tortura), passa por muitas plantações e por ser em terreno aberto, tem a iluminação natural das estrelas e principalmente da Lua. Dava pra ver alguns planetas claramente também, mas como sou péssimo pra esse tipo de localização, só identifiquei Vênus, partindo do princípio de que eu estava correto.

Depois dessa parte tranquila, as plantações cedem lugar à mata cerrada, o caminho fica bem inclinado e a ascensão começa a ficar divertida. O caminho continua de pedras, mas agora com degraus, muitos degraus, infinitos degraus. A despeito disso eu avanço com relativa facilidade e havia a probabilidade de chegar no cume bem antes do esperado, o que não seria bom por causa dos ventos gelados que rondam o lugar. Quando eram pouco mais de 3h (quatro horas de subida) eu chego num lugar que aparentemente estava muito próximo do cume, tanto que havia uma pequena placa escrita Puncak (cume) e apontando em uma direção. Aí, amigos, é que a diversão realmente começa.

Estava muito escuro, a lanterna não ajudava a ver muito além de 3 ou 4 metros e eu segui na direção da placa. O caminho largo e de pedras grandes logo deu lugar a uma trilha quase imperceptível de pequenas pedras. Imaginei que o topo estava próximo. A trilha se tornou de fato imperceptível alguns metros depois, quando cheguei em um pequeno descampado e não havia indicação do caminho a ser seguido. Identifiquei o que poderia ser uma trilha e fui. Andei, andei, peguei caminhos e cheguei em um enorme descampado sem nenhuma indicação de caminho. Marquei, ingenuamente, uma árvore e fui em frente. Depois de uns 50 metros cheguei finalmente à conclusão de que aquele definitivamente não era o caminho correto. Apontei a lanterna para trás em busca da tal árvore marcada e...logicamente não vi nada.

Voltei para a parte das árvores, tentei lembrar dos caminhos seguidos anteriormente, andei bastante e me perdi mais ainda. Subi, desci, fui, voltei, apontei a lanterna em todas as direções e nada. A frustração era enorme. Depois de mais de uma hora andando a esmo, resolvi que era hora de parar, achar algum lugar razoavelmente protegido dos ventos e esperar o sol nascer para tentar achar o caminho de volta. Eram pouco mais de 4h20. Comi um pouco para elevar o moral, gravei uns vídeos engraçados e comecei a gritar coisas engraçadas pois estava em um lugar com bastante eco. Estava perdido, mas ainda estava me divertindo.

Ao longe o sol começa a nascer. Levanto, dou uma volta e começo a identificar o terreno. Passei a considerar a possibilidade de ficar alí mais de um dia e localizei um fonte de água, além de plantas com pequenos frutos. Tudo isso sem desespero, naturalmente. Sério mesmo. Quando já é possível enxergar bem, levanto e começo a andar. Tento seguir um caminho, ando, localizo uma trilha que tinha pego antes de me perder, fico feliz e acho que estou voltando ao caminho certo e...voltei para o mesmo ponto de onde parti. Pelo menos eu já sabia dois caminhos. Não muito distante de mim, tinha uma grande elevação que eu supus ser o cume, mas que não havia um caminho determinado para chegar. Na verdade, até havia, mas era extremamente íngreme, não indicado para pessoas sem experiência em escaladas, que é o meu caso. Assumi que essa rota era usada pelo pessoal roots e arrisquei a sorte.

É o tipo de coisa que a gente só tem noção depois que faz. O caminho era muito íngreme e era muito fácil escorregar e se machucar muito,talvez até morrer. A duras penas consegui subir e quando cheguei no cume percebi que de fato não se tratava do cume oficial, já que era tão pequeno que eu mal cabia nele. Entretanto, a vista era impressionante dalí. Depois de alguns minutos tentando entender a frustração de novamente não achar o caminho correto, eu comecei a descer e foi aí que eu percebí o quão complicado era aquele lugar. Subir tinha sido muito fácil perto do que eu tive que fazer para descer. Descí sem problemas.

Voltei e comecei a procurar novos caminhos. Percebi que em uma árvore havia um plástico amarrando, o que talvez denotasse alguma direção a ser seguida. Minhas buscas partiriam dalí. Achei outra árvore com um plástico amarrado e comecei a gostar de toda essa busca. Infelizmente essa foi a última pista. Passei a olhar para o chão buscando evidências de atividade humana (lixo) e passei a segui-las. Quanto mais lixo, mais perto do caminho correto, eu achava. E eu estava certo. Alguns minutos depois eu voltei para o lugar da placa indicando o cume. E foi aí que eu percebi que a placa não estava indicando a direção que eu havia seguido (em frente), e sim à direita. Em minha defesa a placa estava meio torta, como se alguém tivesse feito de propósito para ajustar a direção correta. E se a minha lanterna fosse de fato útil e iluminasse bem, eu enxergaria a continuação do caminho de pedras.

Depois de uns quinze minutos nessa trilha me encontro com um grupo de locais que estavam voltando do cume. Pergunto quanto tempo ainda falta e eles me dizem: uma hora. Mais uma hora de caminhada. Felizmente eu estou numa forma física digna e consegui fazer o percurso em meia hora. Talvez tenha sido a vontade de acabar logo com tudo ou a adrenalina mesmo. Cheguei e não havia ninguém lá. Palavrões, muitos deles. Referência ao "é tetraaaaaa....é tetraaaa......." do Galvão em 1994. Muita comemoração. Cheguei antes das nuvens e da neblina tomarem conta da paisagem e pude ver muitos vulcões bem distantes daqui. Depois de um café da manhã dos campeões (bolacha e suco de laranja), me preparo para a pior parte de toda a subida: a descida.

Por mais que você desça muito mais rápido, sempre fica a impressão de que você não subiu tudo aquilo. E a descida foi dolorida para os joelhos. O pé nunca pisava reto nas pedras, desequilibrando sempre e algumas delas estavam fora do lugar. Lembram daquela prova "Pedra Maldita" das Olimpíadas do Faustão? Então, imaginem descer 1.500 metros de escada com algumas pedras fora do lugar. Quase a mesma coisa, exceto que se eu cair não será a água que me amortecerá e sim as pedras. Depois de três horas de sofrimento eu finalmente consegui chegar à estrada. No caminho, encontrei com alguns grupos de indonésios que estavam começando a escalada. Se eu ainda estivesse perdido e ficasse me esgoleando certamente alguém iria ouvir, já que eu não estava muito longe do caminho correto. Ainda faltava voltar para a cidade. Depois de muito esperar, consegui uma carona e cheguei em casa por volta de 12h, 13 horas depois de começar a subida.

E neste momento chove muito, bastante, absurdamente. Se não tivesse sido ontem, não seria hoje que eu escalaria o Lawu.

Entre mortos e feridos, um sobrevivente com apenas um arranhão na perna, sem fotos espetaculares do nascer do sol, mas com uma história bacana para contar.

11 comments:

Alexandre D'Andréa said...

Ta vivo???

Unknown said...

Quero saber a mesma coisa, sumiu..

Oz said...

Brow, cadê você já faz algum tempo que não coloca novas informmações, acabou os créditos da LanHouse?

Manda mais notícias, estamos preocupados.

Abraços e boa sorte.

Oz

mdollerer said...

acho que é ressaca...

Michel Munhoz said...

dê notícias, rapaz !!

Alexandre D'Andréa said...

Só uma pessoa sem Carater e que não gosta de gengibre fica 1 semana sem dar noticias e deixa todos preocupados...

Carol Seixas said...

Kdê vc Luiz?
Estou com saudades do "BOM DIA CAROLINA"......

*Sandrinha* said...

Cadê você? =(

Anonymous said...

caiu num vulcão, rapaz?? dê notícias !!

Luiz said...

Estou vivão em Bali! Não se preocupem!

Oz said...

Cadê os novos posts?

Estamos aguardando!!!

Abs

Oz