Tuesday, February 10, 2009

Ciao

Hoje, 10 de fevereiro, eu completo o meu dia de número 154 e, em virtude dos meus deslocamentos a partir de amanhã, o meu último dia "prático" na viagem. Amanhã é dia de pegar o vôo de volta para Délhi, matar o tempo na quinta-feira e começar a via-sacra de volta ao Brasil a partir de sexta, com uma pequena parada em Munique para finalmente aportar em solo tupiniquim junto com os primeiros raios solares de sábado.

Hoje se encerra o último capítulo de uma história que começou dois anos atrás, com a minha primeira viagem internacional, para o Chile. Lá ,eu conheci uma australiana que tinha pedido demissão do emprego para viajar o mundo por alguns meses, enquanto eu tinha que me contentar com menos de duas semanas. Eu lembro bem de termos conversado sobre o fato de que o emprego não poderia ser um empecilho para esse tipo de plano e que quando a gente volta, logo se recoloca no mercado de trabalho. Ano passado eu voltei para o Chile e novamente conheci uma porção de europeus desmiolados que gostam de viajar por meses a fio. Então pensei: "Por que eu não sou o sulamericano desmiolado que viaja por meses a fio?".

Mas antes que a idéia de viajar se concretizasse com um plano específico, eu cismei (e ainda tenho essa cisma) que queria passar alguns meses na Europa para aprender uma língua fora do circuito latino, mais especificamente sueco. Eu tinha um plano e tinha dinheiro, afinal, desde que comecei a trabalhar, quatro anos antes, passei a economizar o máximo que podia. Eu economizava, mas não sabia exatamente para o que; poderia ser um carro novo,um MBA ou uma viagem, mas o importante era ter o dinheiro na mão quando me decidisse. Gosto de ter opções e não ficar engessado com meus planejamentos.

Antes de sair do país, eu precisava sair do emprego e isso não foi uma tarefa fácil. Poucas vezes na vida você tem a oportunidade de fazer o que gosta, com pessoas com as quais você se dá muito bem, com boas possibilidades e tudo dentro de um ambiente leve e amigável. Pelo menos para mim, era como trabalhar em uma versão tupiniquim da sede do Google no Vale do Silício. Não foi fácil, mas tinha que ser e foi feito.

A partir daí, eu tinha todo o tempo do mundo para escolher a escola e ver toda a documentação necessária para fazer o curso fora do país. É aí que entra o grande problema: todo o tempo do mundo. Quanto mais eu penso, maiores são as chances de eu mudar o que já era dado como certo. O curso de sueco de nove meses virou 2 cursos (sueco e àrabe) de dois meses cada mais dois meses viajando, depois virou um curso de dois meses e o resto do tempo viajando e, quando menos percebi, não queria fazer mais curso algum.

Ok, seis meses para viajar e uma infinidade de opções na Europa para escolher. Como eu sou do contra, abro mão dos países mais mainstream e foco em lugares menos requisitados como Romênia e Estônia. Entretanto, eu ainda tinha todo o tempo do mundo para pensar e para pesquisar e foi aí que eu descobri um blog de um casal que fez uma viagem pelo sudeste asiático por mais ou menos quatro meses. Vários países alternativos, muitas fotos bacanas, experiências interessantes e "pouco" dinheiro gasto.

Ok, então nesse ponto eu dividi a viagem entre Europa e Ásia. Dois meses na Europa, três meses na Ásia e mais um mês no velho continente para "ver a neve cair do céu". Bom, como vocês já devem ter percebido, ainda havia margem para mudanças porque eu ainda tinha muito tempo para pensar. As semanas foram passando até que em meados de Junho eu decidi deixar a Europa de lado e me concentrar apenas na Ásia, por achar que a experiência seria mais rica. Os planos ficaram mais concretos.

No dia 30 de Julho e ligo para a companhia aérea meio que sem compromisso e termino a ligação com as passagens compradas. Agora era pra valer. Em quarenta dias eu embarcaria rumo à Bangkok sem um rascunho que fosse de um roteiro. Comprei os guias de viagem do Sudeste Asiático e da Índia e comecei a esboçar uma rota. Como eu dificilmente me preocupo demais com algo, deixei o tempo passar e só fui começar a resolver os detalhes da viagem nas duas últimas semanas. Um punhado de vacinas aqui, um cartão de crédito a mais alí e eu estava pronto.

Como vocês puderam acompanhar nesses cinco meses, a viagem sofreu algumas mudanças, tive muitas boas surpresas e que o resultado final ficou bem além de tudo o que eu tinha imaginado. Acho que os textos resumo de cada país exprimem um pouco do que falei aqui.

Durante toda a viagem eu sempre tive a impressão de que tudo corria muito naturalmente e nunca senti nenhuma dificuldade. Não que eu seja a pessoa mais esperta do mundo ou a mais adaptável, talvez a cultura asiática não seja tão diferente quanto a gente pensa ou talvez eu consiga flutuar facilmente entre ocidente e oriente e essa foi certamente uma das descobertas mais interessantes que fiz.

Notei também que gosto muito mais de "gente da gente" do que eu imaginava e isso fica bem claro nas minhas incursões nos vilarejos do Laos. Além disso, me surpreendi com a minha capacidade de guardar informações aleatórias e depois concatená-las para fazer argumentações mais complexas, como na experiência na Universidade na Indonésia.

E também não posso deixar de mencionar os idiomas. Não fui pra Suécia e nem aprendi sueco, entretanto aprendi um punhado de palavras e frases úteis em diversos idiomas, incluindo os de países que não visitei, como Coréia e Japão. Não só aprendi a falar, como me arrisquei a tentar entender a complexidade do alfabeto lao ou a estrutura da língua indonésia. Língua indonésia essa, que eu mais aprendi e me interessei durante toda a viagem a ponto de saber uma infinidade de palavras, ainda que eu não saiba encaixa-las em frases ainda.

Meu propósito na viagem era ficar o mais longe possível dos outros ocidentais, de forma a não atrapalhar a minha busca para entender melhor a cultura oriental. Portanto, eu dei preferência, pela ordem, para: locais, ainda que a comunicação fosse restrita; asiáticos de maneira geral; latinos e por fim, europeus. Nesses cinco meses de viagem e com mudanças constantes de cidade, fiz um punhado de amizades meteóricas, de poucas horas e que eventualmente podem continuar e serem aprofundadas e as quase duas semanas em Luang Prabang permitiram a criação de um vínculo um pouco mais duradouro com parte da legião coreana que lá estavam.

Esses cinco meses serão obviamente, inesquecíveis, e não me arrependo em nenhum momento das decisões que tomei para chegar aqui, da demissão ao trancamento da faculdade, à quase exaustão das minhas economias em tempos de crise. Falar que eu aprendi muita coisa e descobri mais um outro tanto é bem clichê e por isso eu não vou perder mais tempo falando nisso. Além do mais, eu prefiro dizer que nesses cinco meses eu exercitei um lado meu que não era muito acionado antes.

Como toda viagem longa pede, e muitos de vocês vão me perguntar, seguem alguns TOP5:

Países:
1. Laos
2. Tailândia
3. Indonésia
4. Myanmar
5. Malásia

Cidades:
1.
Luang Prabang - Laos
2. Bangkok - Tailândia
3. Bagan - Myanmar
4. Bukittinggi - Indonésia
5. Pwin Oo Lyin - Myanmar

Lugares turísticos:
1.
Os milhares de templos de Bagan - Myanmar
2. Os templos de Angkor - Camboja
3. Bangkok - Tailândia
4. A Chinatown de Melaka - Malásia
5. O sítio histórico de Sukhothai - Tailândia

Comidas:
1.
Qualquer coisa tailandesa
2. Laap Kai do Laos
3. Salada de abacate e tomate em Bagan - Myanmar
4. Tandoori Chicken na Malásia
5. Beerlao :)

Experiências:
1.
Aula na Faculdade de Bukittinggi - Indonésia
2. Almoço com Beerlao no gelo em um vilarejo de Luang Prabang - Laos
3. Ser conhecido por metade da cidade em Pwin Oo Lyin - Myanmar
4. Festa de família, sinuca e mais Beerlao no gelo em um vilarejo de Vang Vieng - Laos
5. Voltar para Bangkok e Luang Prabang e saborear a doce nostalgia desses lugares

Bangkok leva o prêmio "conjunto da obra", por reunir características que despertaram o interesse de, quem sabe um dia, trocar o ocidente pelo oriente.

No mais, quero agradecer o apoio dado aqui no blog e fora dele tanto pelos leitores assíduos e "comentaristas", quanto pelos leitores "de ocasião". Lembrando que sim, eu fiz o blog para exprimir as emoções e sentimentos e não descrever alegoricamente os lugares turísticos que visitei. Se vai dar um livro eu não sei, mas já tenho um pequeno grupo de pessoas dispostas a comprá-lo! :)

Abraços e até a volta!

2 comments:

Unknown said...

Klein,
Por uma infinidade de vezes te disse o quanto invejo sua viagem.
Porém, ao meu ver, trata-se de uma inveja boa, não apenas pelo senso comum de provável desconhecimento a respeito dos lugares pelos quais você viajou mas, sobretudo, pela sua atitude, seu desprendimento e sua capacidade de adaptação.
Ainda que o "acúmulo de aprendizado" pareça cliché (como você bem citou), esse rico tipo de experiência certamente nos faz romper com o status quo até então vivido e apresenta novas possibilidades futuras.
Muito provavelmente você guardará lembranças desses cinco meses por toda a vida e faço votos de que essa viagem seja apenas uma das tantas que estão por vir!
Um forte abraço,
Rodrigo

Anonymous said...

Viajar é que nem um vício: quando a gente começa não quer parar mais. Espero que esse seja um vício que tenhamos cada vez mais oportuniaddes de alimentar, ainda mais se for alimentado da maneira como vc o fez: não para fazer compras ou visitar só lugares turísticos como muita gente faz, mas para de fato conhecer os lugares, as pessoas, as culturas. Vc é sem dúvida um exemplo a ser seguido nesse quesito, xuxu, maior orgulho!

Nossa, eu lembro de como vc mudou de idéia um trilhão de vezes sobre seus planos e destinos. Foi legal acompanhar esses bastidores.

Yaaaaaaaay, as listas!

Ai xuxu, adorei. E já me ofereci pra fazer o prefácio do livro, hihi!

Caso não nos falemos até lá, boa viagem!!! E até domingo! \o/

Beijos!